domingo, 17 de julho de 2011

Vida.


Vida e tempos que correm…

Das melhores coisas que li ultimamente.

Aqui fica, um texto do escritor José Luís Peixoto, lido na Praça Sintagma (Grécia), escrito para o Mayday Lisboa 2011.

Em minha opinião devia ser leitura obrigatória nas escolas portuguesas. Se calhar não passaria nas “Comissões de censura”, por falar, por apelar, a algo que a Escola cada vez nega mais aos que a frequentam e nela sobrevivem, vida e direito à vida. Vá lá… logo que recomece o ano lectivo, experimentem, leiam e discutam este documento com os vossos alunos.

Ousem ler, ousem lutar, ousem viver, tenham a coragem de SER. Abandonem de vez o medo que vos mata.

Impossível é ficar calado

“Se te quiserem convencer que é impossível, diz-lhes que impossível é ficares calado, impossível é não teres voz. Temos direito a viver. Acreditamos nessa certeza com todas as forças do nosso corpo e, mais ainda, com todas as forças da nossa vontade. Viver é um verbo enorme, longo. Acreditamos em todo o seu tamanho, não prescindimos de um único passo do seu/nosso caminho.

Sabemos bem que é inútil resmungar contra o ecrã do telejornal. O vidro não responde. Por isso, temos outros planos. Temos voz, tantas vozes; temos rosto, tantos rostos.
As ruas hão-de receber-nos, serão pequenas para nós. Sabemos formar marés, correntes. Sabemos também que nunca nos foi oferecido nada. Cada conquista foi ganha milímetro a milímetro. Antes de estar à vista de toda a gente, prática e concreta, era sempre impossível, mas viver é acreditar. Temos direito à esperança. Esta vida pertence-nos.

Além disso,
é magnífico estragar a festa aos poderosos. É divertido, saudável, faz bem à pele. Quando eles pensam que já nos distribuíram um lugar, que já está tudo decidido, que nos compraram com falinhas mansas e autocolantes, mostramos-lhes que sabemos gritar. Envergonhamo-los como as crianças de cinco anos envergonham os pais na fila do supermercado. Com a diferença grande de não sermos crianças de cinco anos e com a diferença imensa de eles não serem nossos pais porque os nossos pais, há quase quatro décadas atrás, tiveram de livrar-se dos pais deles. Ou, pelo menos, tentaram.

O único impossível é o que julgarmos que não somos capazes de construir. Temos mãos e um número sem fim de habilidades que podemos fazer com elas. Nenhum desses truques é deixá-las cair ao longo do corpo, guardá-las nos bolsos, estendê-las à caridade. Por isso, não vamos pedir, vamos exigir. Havemos de repetir as vezes que forem necessárias: temos direito a viver. Nunca duvidámos de que somos muito maiores do que o nosso currículo, o nosso tempo não é um contrato a prazo, não há recibos verdes capazes de contabilizar aquilo que valemos.

Vida, se nos estás a ouvir, sabe que caminhamos na tua direcção. A nossa liberdade cresce ao acreditarmos e nós crescemos com ela e tu, vida, cresces também. Se te quiserem convencer, vida, de que é impossível, diz-lhe que vamos todos em teu resgate, faremos o que for preciso e diz-lhes que impossível é negarem-te, camuflarem-te com números, diz-lhes que impossível é não teres voz.”

José Luís Peixoto. (Quem é? – Clica Aqui!)

Coldplay Viva la vida

3 comentários:

  1. Os Três Macacos Sábios, ilustram a porta de um templo do século XVII localizado no Japão. As origens deles é baseada num trocadilho fonético japonês: Não ouça o mal! Não veja o mal! Não fale o mal! Os nomes desses simpáticos macacos são: Kikazaru (o que tapa os ouvidos para o mal), Mizaru (o que cobre os olhos para o mal) e Iwazaru (o que tapa a boca para o mal).

    Mas normalmente esquece-se que Kikazaru pode ver e falar, Mizaru pode ouvir e falar e Iwazaru pode ver e ouvir.

    Nós por cá dizemos que quem cala consente...

    Por isso mesmo não nos devemos calar e temos a obrigação de nos indignarmos e denunciarmos o que é denunciável!

    Também poderemos começar o próximo ano a debater com os nossos alunos "que sentido tem uma vida sem sentido?".

    Um abraço Luís Sérgio!

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  2. Obrigada Luís Sérgio, pela partilha. Um texto lindíssimo e cheio de VIDA!
    Boas férias.
    Até já

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  3. Sérgio !
    Tens razão , excelente texto. Uma boa escrita a merecer adequada reflexão.
    Mas, gostei bastante do post anterior, escrito por ti, excelente mesmo. E o que dizes infelizmente é verdade, espero que os professores acordem, tarefa complicada, pois esta ADD, está a dividir todos.
    Não sei o que se passa, mas estou a ter grandes dificuldades em publicar comentários.

    Grande abraço,
    Filipe Guerra
    PS:Espero que no encontremos estas férias.

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