Parque de
diversões.
Caro amigo,
Todos os dias nos saltam ao caminho situações que nos
deveriam levar a reflectir. Que se estava a viver acima das possibilidades era
evidente. Que se deveriam ter tomado
decisões para se reformular o conceito de vida despesista era evidente. Que
muitos portugueses e portuguesas se colocaram a jeito pelo esperar que outros
fizessem o que lhes competia era evidente. Mas isto o que está acontecer merece
um discurso diferente aglutinando esforços e vontades.
Vamos então às evidências. Quando se investe num País pagando
impostos (cada vez mais e de uma cegueira atroz) espera-se que os gestores
façam o seu melhor para rentabilizar o investido. Como? Tomando as medidas
certas, em tempo certo, escolhendo as pessoas com perfil para dar
sustentabilidade à empresa. O que aconteceu? Loucura na palavra, luxúria no
estar e, principalmente, cegueira quanto à realidade do país.
Como sempre o totó pagante é confrontado com o aumento
consecutivo de impostos para recuperar na roleta da política a saúde do
paciente moribundo e já sem força para seguir em frente. O que acontece? Nem
uma palavra de estímulo a quem faz das tripas coração para aguentar esse
investimento. Antes dizendo que se as coisas piorarem vamos aumentar os
medicamentos (cada vez mais caros) sabendo que o diagnóstico está errado desde
o início. Em qualquer empresa fácil seria aumentar os preços quando os
resultados não são suficientes.
Acontece com a Educação um fenómeno deveras intrigante para o
simples luso mortal. Parece um parque de diversões em que cada um que chega faz
o que bem entende sem ter em conta o que interessa verdadeiramente fazer. Nas montanhas
russas o subir e descer sem rigor leva a que os utentes saem cada vez mais
tontos e agoniados. No lançar a bola contra o professor a coisa toca a
desfaçatez em torná-la mais pesada para o derrubar de vez. Nos carros de choque
o martírio aumenta pelos constantes abalroamentos contra a sua integridade
física e mental de forma a traumatizá-lo com gravidade para o ver prostrado sem
remissão. Nas curvas da morte os conteúdos são de tal forma alterados que de
tanta pirueta fica a ideia que o desastre está por pouco pela muita mudança de
direcção.
Falta claro a roda gigante onde habitualmente se deixa ficar
no ar aquilo que merecia estar com os pés bem assentes no chão. Quanto à
vidente desdentada que prevê o futuro só lhe resta dizer ao professor que
imigre para à distância observar os seus alunos a saírem de um Portugal exportador
de massa cinzenta. Ao sair da feira tonto de tanta diversão sem sentido pede na
bilheteira que lhe devolvam o preço de entrada. Mas continua sem sorte. Pois
dizem que na próxima vinda o preço está mais alto porque não conseguem
rentabilidade para a manter a porta aberta.
Como forma de terminar desejaria dizer-te que nunca tantos
falaram daquilo que é uma evidência. O que levou anos a entortar não se pode
endireitar em poucos meses. Que a Educação deve ser tida por um serviço de
excelência e não um monte de desperdício legislativo sem sentido. Que nunca
ninguém conseguiu ter sucesso contra quem tem no terreno de implementar o que
se decide como bom. Que os nossos jovens não podem parar de crescer para
esperar finalmente pela qualidade no ensino. Um país que não aproveita quem se
esforça e consegue criar riqueza futura nunca chegará a bom porto.
Caro amigo, não te tenho dito nada ultimamente pois sinto
necessidade de clausura para reflectir sobre o que se está a passar neste país
de muita gente boa e competente. Como tu, meu amigo!
Um abraço solidário
José Luís