Foto : L-Sérgio |
Como se cria um Tiranete
Dizia há
dias um amigo: “um tiranete não nasce, aparece.”
- Coisa
estranha, respondi. Para aparecer o homúnculo teve que nascer. E se nasceu é
porque alguém o criou.
- E depois
apareceu.
- Sim, mas,
apareceu porque nasceu, foi-se criando, ou melhor criaram-no, o que é que te
parece?!
- Um
tiranete não nasce sozinho, digo-te eu.
- Não sei se
é bem assim, a maior parte das pessoas nascem sozinhas.
- Mas o
tirano não nasce, A-PA-RE-CE, raios, confia em mim.
- Na verdade,
se os tiranos nascem ou aparecem, nem me interessa muito, até conheço uma
receita para a criação de tiranetes. Aprendi-a algures num velho livro de
receitas do meu avô.
- Ah, e que
livro é esse?!
- “Escuta
com atenção o que um velho tem para te dizer”.
- Mas tu
ainda não és velho?
- Não sou
eu, pá, é o nome do livro do meu avô.
- Nunca ouvi
falar em tal livro.
- Pois não,
era só do meu avô, melhor, era o meu avô. Nunca ouviste dizer que quando morre
um velho arde uma biblioteca.
- O que eu
sei é que, com esta conversa, cada vez entendo menos de tiranos. O que eu quero
é que eles vão …
- Não digas
mais, não me estragues o texto com linguagem obscena, já me basta o assunto da
nossa conversa, é melhor não entrarmos por aí.
- E se passasses à receita.
- Nesse
caso, ouve bem, “escuta com atenção o que um velho tem para te dizer.”
Aviso
prévio:
Esta receita
tem origem nos tempos mais recônditos da História Humana, quando o homem ainda
não era bem um homem. Trata de loucura, mete cães, gatos, donos dos cães e dos
gatos e Deus, com mais precisão, anda por aqui a ideia de Deus. Precisa de
muita bajulação, subserviência e medo.
- É uma
receita ou um filme de terror?
- Quando
lidamos com esta canalha, sem dúvida, a “coisa”, mais parece um filme de
terror, vamos então ao que interessa:
Ingredientes:
- Um sujeito (ou sujeita) meio louco, meio
doente, mentalmente senil, incapaz de pensar nos outros e que vive na constante contemplação do próprio
umbigo. Confunde-se com os cargos que ocupa, utilizando todas as
estratégias possíveis e imaginárias para oprimir quem o rodeia. A instituição é
ele, nele tudo se confunde e é incapaz de discernir o bem do mal. Usa os dotes
de actor para se travestir de camaleão e estar sempre, cada vez mais, de acordo
com os poderes reinantes, independentemente, da cor ou ideologia. O oportunismo
é a sua religião. Deus, se acaso existe, é a toda-poderosa sua pessoa.
Normalmente, rodeia-se de moluscos sem carácter que lhe obedecem cegamente. A
sua fala parece rosna de cão tinhoso e vive enclausurado no seu complexo de
gato fedorento, aliás, o complexo de gato confere-lhe a aura e o inapropriado
sentimento de rei sol. Resumindo, o sujeito ou sujeita dorme com Satanás, mas
considera-se um Deus. Diga-se de passagem que, dormir com o inimigo até nem
seria muito original, nem grande mal viria ao mundo, o pior é que o amador de
tanto amar transformou-se na coisa amada.
- Várias terrinas, até mesmo algumas
panelas de bajulação. Refira-se a propósito que, bajulação em doses excessivas
fermenta e fermentação é condição necessária e suficiente para revelar a besta
exasperada em todo o seu esplendor, mais parecendo um pavão de crista empinada.
- Um alargado número de “gentes”
dispostas a obedecer, sem esboçar minimamente desacordo ou pensamento próprio.
- Doses elevadas de medo, muito
medo e ainda mais medo.
- Cobardia e falta de carácter quanto baste.
Preparação:
Misture
todos estes ingredientes num espaço ou organização a seu gosto (ou para seu
desgosto, vá-se lá saber?!) até pode ser uma unidade orgânica. Deixe ao lume
durante algum tempo, mas cuidado, não deixe demasiado tempo, pois, pode correr
o perigo de o tiranete se agarrar demasiado ao tacho e, nestes casos, só com
muita persistência e muita luta conseguirá remover a pestilência.
(Continua. Ver parte 2 de 2 a publicar brevemente).
(Continua. Ver parte 2 de 2 a publicar brevemente).
Este texto faz-me lembrar alguns acontecimentos, passados recentemente! Mas, como digo eu, e o texto dá a entender também,cada um que tire as ilações que quiser ou puder!
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