Luís Sepúlveda é actualmente um dos autores que mais gosto de ler. Ao
contrário de muita pseudo literatura, a escrita deste autor chileno
alimenta-nos o espírito. Nos seus livros há vida, experiências de vida, lições
para a vida e reflexões para nos fazer pensar. Não o conheço pessoalmente,
pouco sei dele, mas, da leitura dos seus livros depreendo tratar-se de um
homem de carácter, de valores, um defensor da justiça, dos mais pobres e um
humanista convicto. A sua escrita é empenhada, sincera e de certa maneira uma
forma de cultura, com elevado desenvolvimento moral, só ao alcance de poucos.
Li quase todos os livros, senão todos os livros que foi escrevendo, alegro-me
cada vez que vejo um novo livro deste autor. Alegra-me a escrita simples,
sintética e escorreita com que reflecte sobre assuntos que interessam ao
viver social. Lê-lo é como navegar num mar doce e manso que nos deixa
felizes. Ao contrário de palavrosos e ignorantes comentadores televisivos, Luís
Sepúlveda “sabe do que fala”, escreve sobre o que conhece, a sua literatura tem
sumo, não se converte às modernices vazias de conteúdos e valores. Com este
Homem aprende-se a viver e a ensinar que há moral nas acções e actos de uma
vida. Acabei de ler “Uma ideia de felicidade”, livro cuja escrita
partilha com Carlo Petrini, o fundador do movimento Slow Food. Os dois
autores escrevem sobre o direito à felicidade, da sua importância para o homem,
mas falam de muitas mais coisas que nos interessam, que nos tocam, não vos vou
escrever sobre isso, desafio-vos para a leitura, depois falaremos. De qualquer
modo, atendendo ao que se está a passar na sociedade portuguesa, mais
concretamente, sobre a triste situação de os professores, precisarem, mais uma
vez, de lutar para serem tratados com dignidade não resisto a partilhar o que
pensa Sepúlveda sobre o modo como devem ser tratados os professores, tendo como
exemplo o que se está a passar no Uruguai:
“...O único objectivo que temos para os próximos dez anos é acabar com a
pobreza e garantir a todos os
habitantes da nossa nação uma vida digna, como primeiro passo para termos
todos, amanhã, uma existência plena, realizada e também feliz.
(...) A sociedade uruguaia decidiu que o
trabalho mais importante, e que deve ser honrado e premiado, é o do professor.
Foi proposta uma lei segundo a qual nenhum parlamentar do uruguai, nenhum
ministro, nem sequer o presidente, pode ter um salário superior ao de um
professor primário. É um passo fundamental no caminho para a normalidade, para
uma justa hierarquia dos valores : reconhecer o trabalho importantíssimo de uma
categoria profissional que tem a missão de transmitir às novas gerações o
conhecimento, a cultura, a tradição, todo um sistema de saberes.
Muitos dos grandes homens que conheci, e não acho que
seja por acaso, fizeram do ensino a sua missão na vida e uma via para a
recuperação de uma felicidade profunda, da realização pessoal mesmo em
condições difíceis,...
(pp. 46 e 47 ).
Hoje , no Portugal de 2018 e dos próximos anos, em meu entender, no
combate político e sindical dos professores é limitado falar em igualdade de funcionários públicos, é
preciso sim, exigir discriminação positiva , tratamento digno para quem tem a
nobre missão de formar os cidadãos do futuro.
No dia em que o professor for só mais um entre os funcionários públicos,
chorarei pelo meu país, chorarei por um país condenado à miséria, à pobreza
e sem futuro.