sábado, 18 de dezembro de 2010

FIEL SERVENTUÁRIO (A)

CHEGÁMOS A UM PONTO EM QUE A FALTA DE DIGNIDADE É TÃO GRANDE QUE FICA DIFÍCIL DIZER ALGUMA COISA.
Pedro Abrunhosa, entrevista à NS de 18 de Dezembro de 2010.

O FIEL SERVENTUÁRIO

Não sei se é por natureza se da educação ou situação, mas o fiel serventuário não passa de um escroque. Às vezes, só damos conta que estamos perante personagem tão execrável pelos traços distintivos. Sim! Porque à primeira vista o espécime é um professor como outro qualquer, mas não um qualquer. Acima de tudo e, antes de tudo o mais, serve-se a si próprio, os seus interesses, muito de carácter pessoal e só esses, os outros não existem, são um fingimento. Depois serve o “chefe”, o adorado e mui poderoso “capataz”, obedece-lhe cegamente, religiosamente, numa reverência idiota e de espírito medieval. Dobra-se ao tirano, humilha-se, trai amigos, colegas e outros, na busca incessante de uma migalha, de um favor que preserve os seus “instintos mesquinhos” de ser super-egoísta. A sala de professores, sim, a sala de professores é o seu lugar excelso, santo e sanha, lá se instala, ouve, regista, adocica e, “ em primeira mão”, leva ao capataz, a versão original, a puríssima e genuína versão de quem sabe do que fala, mas não fala verdade, nem com lealdade. Se ao chefe agradar a distorção, a mentira, tanto melhor, adaptar-se é a sua especialidade, o serventuário é primo direito do Camaleão. Sujeitar-se às circunstâncias do poder está-lhe na massa do sangue. Oportunista quanto baste, não olha a meios para atingir os fins. E os seus objectivos, sempre os mesmos do chefe, são imaculados, mas escondidos, muito escondidos, não vá alguém descobri-los. Vive aterrorizado, medo, muito medo é um dos seus traços distintivos. Vê adamastores em todas as janelas, nuvens no sol e quase não dorme. Cada vez mais se parece com uma coisa, uma coisa pouca, que se apouca, não presta e não age. Está algures entre o nada e o sujeito nulo. Apesar disso existe, anda por ai, espreita às esquinas e encosta nas avenidas. Para ser um “ Zé Ninguém” falta-lhe tudo, para ser alguma coisa faltam-lhe as qualidades. Parafraseando Almada Negreiros, um verdadeiro e fiel serventuário será aquele que reunir no seu máximo todas as qualidades e todos os defeitos. Coragem servo, só te faltam as qualidades !

Género e nome – Um traço distintivo do facínora é pertencer aos dois géneros. Serventuário ou serventuária, tanto faz, é tudo canalha. Nome, não há um nome, são muitos e variados os nomes. Depende da escola e das circunstâncias, daí que, seja apropriado chamar-lhe FILHO-Da-PUTA ou SAFARDANA!

Por isso mesmo, cada vez gosto mais do “ Kira”, o meu gato preto. Pelo menos, não engana ninguém, é interesseiro, sem dúvida, mia quando lhe interessa e convém, mas subserviência não lhe passa pela cabeça, servilismo muito menos, por mais que eu tente, só obedece quando quer e bem lhe apetece. Assim fossem os professores, de certeza estaríamos bem melhor. Oh! Se estaríamos.

Oh! Se os professores fossem como os gatos….como os gatos…


Para desanuviar ... Deolinda.