domingo, 25 de setembro de 2011

Então e os directores. Pá!

Foto : Inês Mendes

Ao cuidado de:
 Sr. Ministro da educação, Professor Doutor Nuno Crato;
Partidos políticos;
Sindicatos;
Directores escolares;
Professores e restantes funcionários das escolas e agrupamentos escolares;
Cidadãos em geral.

Então e os directores. Pá!

Segundo o DN os directores escolares andam preocupados porque não têm quem os avalie. Até avançam algumas soluções para resolver a questão, inclusive o adiamento, visto que ninguém progride. Estranho é que não se tenham lembrado dessa ideia quando se tratou de avaliar os colegas. Nenhumas das propostas avançadas pelos senhores directores me parecem sensatas, pelo menos das que foram divulgadas. A maior parte, como sabemos, trabalhou servilmente recorrendo a todos os folclores possíveis e imaginários para mostrar serviço às DREs, e, agora, vê a sua subserviência ir por água abaixo sem a respectiva compensação. Temos pena, muita pena! Por isso, queremos ajudar. Em primeiro lugar, não queremos que tão excelsos servidores do estado fiquem sem avaliação, eles que tanto a adoram (realmente este mundo é cruel, como podem estas almas passar sem avaliação …). Segundo - pretendemos aproveitar para ver quem tem “costela democrática e exige ser avaliado por aqueles que supostamente dirige. Vá lá, não tenham medo da arraia-miúda… Terceiro – aproveitar esta janela de oportunidade (que bonito não é?) e dar largas à reivindicação da autonomia tão desejada por alguns. Mas como?
- Propor de imediato que os partidos legislem no sentido de os senhores directores serem avaliados por todos os professores e funcionários dos agrupamentos  de forma anónima. Confesso que não encontro melhor forma de avaliar um dirigente, seja ele qual for: ser avaliado pelos que dirige, pelos que “sentem na pele a qualidade ou não das suas decisões, pelos que “sentem na pele” a justiça ou não da sua actuação. Cumpria-se assim um dos desígnios da autonomia e, por outro lado, aferia-se do estado de satisfação com o tipo de gestão que impera nas escolas.
Terão os sindicatos coragem para aproveitar a oportunidade?
Serão os senhores “chefes” homens suficientes para aceitar a avaliação feita por quem realmente sabe o que eles valem?
Será que o ministério quer mesmo a autonomia?
Ao terceiro dia, Deus disse: “ avaliai-vos uns aos outros “. Será que vamos perder esta oportunidade e por em causa a fé democrática?


terça-feira, 20 de setembro de 2011

Brincar com o fogo.


Foto : L. Sérgio


Brincar com o fogo.

 Deixa estar, jacaré, que a lagoa há de secar.  

Parece-me que alguém anda a brincar com o fogo e ainda não percebeu. Nos últimos tempos, sempre que dá entrevistas, o Senhor Ministro da Educação fala em concursos locais de colocação de professores, percebe-se claramente que se prepara para atacar o concurso nacional de professores. Num afã descentralizador(será desresponsabilizador?) que, na prática, configura uma concepção de escola como uma fábrica onde os operários são explorados até ao tutano, entende-se que escolher os trabalhadores (professores) é missão do patrão, do capataz, que subjugando-se ao jugo autárquico escolherá não os melhores, os mais bem preparados, mas os subservientes, os da cor, os afilhados do padrinho com mais poder e mais influência no meio. Propor a contratação de professores a nível local, seja pelas câmaras, ou pelas escolas, num país onde em muitas autarquias a corrupção e o compadrio são dominantes significa o fim do professor, é descer a um nível muito abaixo do que se viveu nos piores tempos do salazarismo. Outro aspecto ligado ao da colocação de professores é o da autonomia das escolas, se se entender por autonomia, dar mais poderes aos directores, mais não é, em grande parte dos casos, do que reforçar as “ Ilhas de tirania” em que se transformaram as escolas, como escreveu há algum tempo o professor Santana Castilho.  Reforçar os capatazes para eles subjugarem os operários, impondo-lhes ritmos de trabalho absolutamente insuportáveis para depois medir resultados, poderá iludir e aparentemente parecer medida acertada, mas o tempo, como sempre, mostrará que esta via não será aceite nem pelos professores, nem pela sociedade em geral. Oprimir a maioria retirando-lhe vida e, sobretudo qualidade de vida, em favor duma minoria tirânica, doentia e sem valores, aguenta-se por algum tempo, até pode durar, os tiranos e os ditadores normalmente demoram a cair, só que transportar a canga faz ferida, e esta dói, e o que dói revolta, e a revolta faz os homens e as mulheres crescer, liberta-os e traz-lhes liberdade. Pensar que a Escola e os professores estão domesticados é só aparência, porque a toupeira anda aí. Na verdade, nós não somos a Grécia, mas estamos a ficar gregos, cada vez mais gregos e, de tantos nos vermos gregos, isto explode. Por isso mesmo, se calhar, não é boa política brincar com o fogo…
Ainda sobre a autonomia das escolas e a contratação de professores, o colega Octávio Gonçalves, no seu blogue escreve o seguinte: “
“…convém ter presente que depois das amizades, dos tráficos de influências e das fidelidades ou dependências políticas vêm as contrapartidas de várias naturezas, incluindo as relativas a favores sexuais e outros.
Num país de compadrio, de cunhas, de apadrinhamentos elitistas e de tráfico de favores, a autonomia das escolas, como alguns a parecem querer gizar, será um desastre absoluto (defender que a subjectividade e a parcialidade de um director se deve sobrepor, em termos de contratação de docentes, à certificação universitária e à graduação profissional é uma imbecilidade própria de bandalhos que, porventura, subiram na vida, eles próprios, à custa dos arranjinhos) …”
Octávio V. Gonçalves (No blogue com o mesmo nome)


quinta-feira, 1 de setembro de 2011

VOLTAR.


Foto : Luís Sérgio


Não voltes a um sítio onde já foste feliz, dizem. Os professores estão condenados a voltar a um sítio onde foram felizes, pois é, foram! Outros infelizmente nem isso, são desterrados, enviados para lado nenhum, sem sequer sair de casa. Triste fado o desta profissão, ao que isto chegou, só se está bem onde não se está. Mas será que estamos condenados a ser felizes num outro tempo, noutra escola, noutro país, noutra vida. Será útil, tem sentido vivermos na saudade, no passado e embarcarmos na barca infernal sem termos cometido pecado algum. Temos ou não direito à vida, a uma vida melhor? Como escreveu o J.L. Peixoto: Vida, se nos estás a ouvir sabe que caminhamos na tua direcção. A nossa liberdade cresce ao acreditarmos e nós crescemos com ela, tu, vida, cresces também (…) Diz-lhe que impossível é negarem-te, camuflarem-te com números, diz-lhes que impossível é não teres voz”. Pois é, está difícil, mas a única coisa de que devemos ter saudades é do Futuro, do Futuro Hoje, aqui e agora. Está nas nossas mãos ser felizes, escolher a felicidade, o direito à vida. Está nas nossas mãos olhar o futuro, perseguir o azul está ao nosso alcance e, quando nos quiserem mostrar o contrário, resistir, resistir sempre. Nada nos obriga ao inferno, o segredo está na escolha, na opção que fizermos. Numa das minhas incursões literárias de férias reli As Cidades Invisíveis de Italo Calvino. Se calhar, como este ano as viagens ficaram aquém do esperado, refugiei-me na ficção, e não é que com Calvino relembrei como olhar o mundo, e, deste modo, reaprendi que é possível contrariar o que afirmei no início do post, ou seja, é possível voltarmos à escola e continuarmos felizes. Até parece mentira! Meus amigos, colegas, leitores, se tiveram paciência, e, por alma vá-se lá saber de quem me conseguiram acompanhar até aqui, não desistam agora, e vejam como termina este magnífico livro de Calvino que tomo a ousadia de vos aconselhar: E já o Grão kan folheava no seu atlas os mapas das cidades que nos ameaçam nos pesadelos e nas maldições: Enoc, Babilónia, Yahoo, Butua, Brave Nem World. (…) E Polo : - O inferno dos vivos não é uma coisa que virá a existir; se houver um, é o que já está aqui, o inferno que habitamos todos os dias, que nós formamos ao estarmos juntos. Há dois modos para não o sofrermos. O primeiro torna-se fácil para muita gente: aceitar o inferno e fazer parte dele a ponto de já não o vermos. O segundo é arriscado e exige uma atenção e uma aprendizagem contínuas: tentar e saber reconhecer, no meio do inferno, quem e o que não é inferno, e fazê-lo viver, e dar-lhe lugar.”

Bom ano lectivo a todos,
Grande abraço de solidariedade.

Vejam Bem …