Lançamento de Chuva no deserto de Ana Isabel Falé,
dia 30 de Junho, sábado,pelas 16 horas, vila Alda, em Sintra,
Junto ao Museu de Arte Moderna.
Apresentação a cargo do poeta e historiador João Maria Nabais.
A colega e amiga Ana Falé é uma feiticeira de palavras, na verdade, só um feitiço faria chover no deserto. Aqui fica uma pequena amostra das suas bátegas.
Os Cavaleiros
Vieram os cavaleiros e
povoaram o dia.
Traziam lanças e espadas e
broquéis
montados em levíssimos
brancos corcéis
e
vieram em hordes
galopantes, crinas ao vento,
corações de aço, ensopados
os corpos
no suor acre dos animais,
anunciar que hoje se
cumprem os sinais
da última noite que
encerra as demais,
e
o sol mergulhou em câmara
ardente, lago infernal
de vulcão latente e
aquecendo as gentes, as iludiu
julgando-se estas em tempo
de benção permanente
e
nos corações mais amenos,
escondeu o sol os seus raios.
E nos cavaleiros os homens
viram apenas,
a imagem flutuante do
sonho.
Quando veio a noite e os
céus se rasgaram em violáceas
pinceladas de roxo azulado
e denso, e do céu caíram nuvens
de negro incenso, os
homens guardaram o sonho
e
os cavaleiros entraram por
ele a dentro com suas espadas
e faces sem rosto
e das suas mãos negras
saíram golpes de fogo
e os homens no seu sono,
montaram os brancos corcéis,
para desaparecer no rasto
de mil sóis sem retorno
como nos contos imorais,
presos aos cabelos esvoaçantes
de mulheres
incandescentes, corpos celestiais onde o desejo
se prende e não se sacia
jamais.
Vieram os cavaleiros e o
coração dos homens não leu os seus lúgubres sinais.
28/01/03
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