terça-feira, 24 de novembro de 2009

O DIA DA SAIA


Qual o papel do professor na escola pública ?

Filme extraordinário, actual e mais que real. É francês, é suposto retratar a realidade das escolas suburbanas daquele país, mas olhando-o com atenção verificamos que a nossa realidade, pelo menos, a das zonas suburbanas das grandes cidades é a mesma ou muito semelhante. Por isso, incomoda-me o silêncio à volta desta película. Porque será? Por mostrar uma realidade dura e violenta que se vive dentro dos muros das escolas. Por mostrar a indigência, a brutalidade e o grau zero da aprendizagem vivido num significativo número de salas de aula. Por ser excessivo. Ou porque querem esconder a triste realidade em que se vai transformando a escola pública dos TEIPS, dos EFAS, CEFS e outras coisas que tais. O DIA DA SAIA tem tudo, está lá tudo, desde os defensores do politicamente correcto que, a mando do poder instituído, vão ignorando e mistificando a realidade, veja-se o papel do Reitor; os professores imbecis que em nome do etno-social cedem, alarvemente, até ao absurdo de perderem toda dignidade e não se aperceberem que nada fazem na escola. São os palhaços pseudo-intelectuais, os toscos que mortificam a profissão docente; os alunos marginais, a quem a sociedade não é capaz de educar no respeito pelos mais básicos direitos humanos e respeito pelo outro, mas que envia para a escola para serem entretidos e nela poderem perpetuar e aperfeiçoar toda a espécie de marginalidades. E, depois, há os outros, os muitos professores que querem ensinar, que remam contra a maré, que não desistem e que até à exaustão insistem em ensinar, motivar para a cultura, gritar pelo respeito pelo outro e pela diferença, representados pela personagem principal, Sonia Bergerac e pela sua amiga. São afinal as vítimas de um sistema educativo que não as apoia, não as ouve e se compraz em trucidar. O desenlace (final) do filme, o fim da personagem Sonia Bergerac, é de um significado extraordinário, de um simbolismo que merece toda a atenção e reflexão (não revelo, nem desenvolvo para não ”tirar” o interesse.)
Trata-se repito-o de um filme a não perder, a ver, a rever, a reflectir, a divulgar, um bom pretexto, um bom documento para a discussão sobre a Escola Pública que temos e a que queremos e, muito importante, qual o papel do professor nesta, nessa escola.
Em tempo de revisão do Estatuto da Carreira Docente é preciso “atirar” O DIA DA SAIA” à cara dos decisores da política educativa, pode ser que alguma coisa mude.

Em Lisboa, está em exibição no Cinema City Classic Alvalade, Av. de Roma nº100.

Antes Do Dia da Saia é exibida uma curta-metragem (15m) muito interessante, Deus não Quis, de António Ferreira, sobre a guerra colonial, o amor e os desígnios ou não desígnios de Deus.


sexta-feira, 20 de novembro de 2009

TRAIÇÃO



“Vamos suspender de imediato o actual modelo de avaliação e rever o Estatuto da Carreira Docente, abolindo o regime de divisão actual.”
27/08/09. Discurso de apresentação do programa eleitoral do PSD



Política de verdade ou um Cavalo de Tróia tão mau e traidor como o outro.


Acabo de verificar o resultado da votação no parlamento: propostas que pediam suspensão imediata do “actual” modelo de avaliação derrotadas. Abstenção do PSD favorece PS. Novidade, nem por isso, é o Centrão no seu melhor. Estas agremiações são duas faces da mesma moeda. Divide-os apenas a semântica, uns não cumprem promessas eleitorais outros rasgam--nas, a prática é só uma e tem um nome: TRAIÇÃO.

Voltarei ao tema com mais tempo, por agora, fica o registo.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Oito pontos de discórdia.







A propósito da entrevista da ministra da educação, Isabel Alçada, à RTP 1, ontem, dia 12 de Novembro de 2009.



A raposa disse um dia à galinha: “Temos que nos encontrar para conversar e fazer as pazes”. Mais tarde na floresta só se viam penas de galinha.
La Fontaine


Exma. Sra. Ministra!

Vi e ouvi com muita atenção a sua entrevista a Judite de Sousa. Tinha, confesso, expectativas elevadas, esperava (se calhar fui ingénuo) ouvir algo de novo que me satisfizesse, alguma coisa realmente pensada, real e verdadeira, que deitasse por terra o meu cepticismo em relação ao que poderá ser o seu consulado. FIQUEI DECEPCIONADO! E porquê?
- V.Exa. não foi clara naquilo que pretende. Não foi clara nem objectiva em grande parte da entrevista, refugiou-se em lugares comuns, ideias vagas, em algumas frases feitas e simpáticas. Agradeço a sua simpatia, a sua disponibilidade, o seu ar feliz e simpático, as suas intenções. Os afectos são importantes, sem dúvida, mas depois de tudo o que lutei, lutámos, quero mais, exijo mais. Beijinhos e abraços não me calam.
2º- Decididamente assumiu que este modelo de avaliação é para manter até ao final do ano, quando o que se exigia, sem tibiezas, sem medo, aí sim, mostrando claramente vontade de mudar, suspendesse imediatamente esta farsa inútil e monstruosa de que querem aproveitar meia dúzia de oportunistas. Tal como o seu adorado chefe, alinha na velha e relha teoria do dividir para reinar. A intenção pode não ser essa, mas de intenções também já estou farto, é tempo de actos e de atitudes claras e de efeito prático.
3º- Divisão artificial da carreira, mais uma vez, não percebi o que quer, ao que vem. Essa teoria de que “nem todos podem ascender ao topo”, traz “água no bico”, já ouvi isto antes, a outras personagens. Na verdade, não percebi o que realmente e verdadeiramente pensa desta divisão medieval e artificial da carreira docente. Gosto que me falem claro, que sejam leais, uma negociação exige clareza e lealdade, exige que se coloque em cima da mesa e sem subterfúgios o que se pensa e o que se pretende. Confesso-lhe, com pena, vi jogo escondido, ou se calhar enganei-me e, tudo não passa de mero desconhecimento dos dossiês. Vinte e sete anos fora do 2ºCB são muitos anos, não é?! A realidade quando não a vivemos por dentro escapa-nos muito. Por mais que tentemos, por mais análises que façamos, foge-nos e ilude-nos.
4º- Essa de criar metas para todos os anos de escolaridade e, logo com o Sr. Natércio Afonso, “cheira-me a esturro “, a borrasca da grande. Bastava que se cumprisse com o que existe em termos de objectivos e competências e não se quisesse “passar os meninos à força” e tínhamos o problema resolvido. Pense seriamente nisto. Já agora, como conciliar a não retenção com as metas. Ou será que as metas serão assim como uma espécie de “Insustentável leveza do Ser“ aplicada à educação. Talvez, algo fugidio, flexível e fugaz para ninguém cumprir. Regulamentos e legislação kafkiana já temos de mais, por favor, liberte-nos dessa praga.
5º- Modelo de gestão escolar, ainda não foi desta que a ouvi dizer o que pensa sobre o tema, a culpa se calhar até não foi sua, não lhe foi colocada a pergunta, mas dentro da globalidade de que tanto fala porque não esclarecer as suas ideias a este propósito.
6º- Alguns pontos, aparentemente, positivos: horários dos professores, estatuto do aluno, autoridade do professor. Mas, foi tudo tão vago, tão comum e sem substância que nem sei que dizer, que nem sei que pensar. Será para já, é para protelar e ganhar tempo como deseja o chefe? Dou-lhe o benefício da dúvida (In Dubio Pro Reo), mas, “lá que estou desconfiado e céptico é verdade.” Desminta-me, faça-me, faça-nos, acreditar.
- Até sou optimista, e estou convicto que algumas destas coisas vão mudar a favor dos professores, da escola e da qualidade de ensino, sei que vai ceder em vários pontos, não será tanto por si ou pelo seu governo, mas sim por força da maioria relativa que o povo português vos deu e deixou o PS refém dos outros partidos. É verdade que o senhor Sócrates tudo faz para esconder esta realidade, isso é mera retórica, mera propaganda, a realidade é bem diferente, e se os outros partidos quiserem em matéria de ensino e noutras o governo sairá derrotado, por isso há coisas que vão acabar, V. Exa. sabe-o, o segredo está em adiar, ganhar tempo…
8º - Como é escritora, se por acaso tivesse de sintetizar a entrevista num título de um livro seria num do nosso ex-colega, João de Melo: O meu reino não é deste mundo. E, se calhar o seu reino não é mesmo o dos professores, mas o meu é, por isso, não acredito em simpáticas palavras. Continuo a duvidar, à espera de acções, sem alinhar em optimismos exagerados. Pensando na fábula que inicia este post: não quero perder as penas.

Notícias da blogosfera.



NO CORAÇÃO DA ESCOLA em destaque no portal :

manual escolar 2.o da editora Sebenta .

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Direito ao lazer.




A propósito de leitura, de escrita, de professores, de um tempo sem tempo em que já não há tempo algum...



Burrocracia, cada vez mais burrocracia, mais tempo na escola, mais trabalho inútil, mais desgaste, aos professores falta tempo para ler, para escrever, para irem ao cinema, ao teatro, enfim, cada vez falta mais tempo para se cultivarem. Falta o lazer, o simples lazer, a mais criativa e poética das artes. Como pode estimular a leitura quem lê cada vez menos, quem se cultiva muito menos do que devia. "Já nem tempo há para o marido e os filhos", dizem-me com ar triste e cansado algumas colegas. Depois há planos, grelhas e reuniões, mais reuniões, grelhas e planos. Planos , grelhas e reuniões para tudo e mais alguma coisa, grande parte para nada.Estamos a correr para onde ? O que nos espera, um mundo melhor, uma vida melhor? Cumpra-se simplesmente o tempo de lazer, abandone-se a escravidão dos papéis, a inutilidade ociosa dos que fingem que trabalham muito, cada vez mais embrutecidos, mais tristes, mais depressivos, mais infelizes. Cultivemos o prazer de ensinar e aprender, libertemo-nos das teias BURROCRÁTICAS que só oprimem. Sejamos felizes, façamos do saber algo diferente !Para isso muito coisa tem de mudar, sem demora, que o tempo urge, o tempo esgota-se... e, a paciência não é infinita...

A propósito do Plano Nacional de Leitura, do muito por fazer e do espanto manifestado no jornal PÚBLICO por existirem crianças de 10 anos que ainda confundem "nós com noz", o José Paulo Santos divulgou, no Interactic 2.0, um pequeno texto que merece uma leitura atenta. Leiam e reflictam :" Surpreendidos?! Receio que, se não melhorarmos as condições de trabalho dos professores, a situação vai piorar. Para ensinar,é preciso tempo para aprender e isso é algo que está a ser desperdiçado em tarefas burocráticas nas escolas. Os professores devem poder frequentar livrarias, bibliotecas, seminários, conferências nacionais e no estrangeiro. Não podem ser penalizados por quererem formação!Vejo-os enclausurados, engaiolados nas escolas, alheios ao mundo, completamente afastados das oportunidades. Repense-se no que estamos a fazer aos professores,às escolas, aos nossos alunos..e aos pais! E ao país !

O Estatuto da Carreira Docente, O Currículo Nacional e a Gestão Escolar têm de ser discutidos urgentemente!...

O Plano Nacional de leitura tem de ser mais ambicioso: ofereça-se livros às famílias; faça-se um programa diário na TV; convidem-se autores a falar dos seus livros que constem no PNL; criem-se passatempos onde se ofereçam livros, dicionários, enciclopédias! Campeonatos de leitura!Os nossos canais de televisão devem criar programas educativos, pedagógicos em horário nobre! Tanta telenovela, tantos passatempos descartáveis "embrutecem-nos"!Precisamos dos nossos professores! Precisamos que nos ajudem a mudar o rumo para uma melhor educação... De que precisam eles para que se cumpra um Portugal mais feliz?