“… sondagem da
Universidade Católica para o DN,JN;RTP e Antena 1 mostra que 45% dos
portugueses estão inclinados
a votar PS nas legislativas.”
Excerto retirado de notícia de capa do Diário de Notícias (19 de Outubro de 2014)
versão impressa. Sublinhado de “ No
Coração da Escola”.
Confesso que
os resultados da sondagem não me impressionaram, na verdade o que levou à minha
reflexão e preocupação foi a utilização da palavra “inclinados”. Intencionalmente,
não me refiro às diferentes aceções de inclinados, interessa-me para já e só a
semântica, ou seja, o significado ou significados da palavra.
O ponto de
vista ou lugar onde nos encontramos condiciona, todos sabemos, aquilo que vemos
ou até tentamos ver. Durante largos minutos interroguei-me se da parte do
jornalista existiria uma intenção meramente informativa. Quereria informar que,
de acordo com a sondagem, uma percentagem de votantes portugueses estará
disposta a votar num determinado partido político? Assumindo que seria esta a
intenção, podemos ler a notícia como manifestação de uma tendência, de um
sentido de voto.
A minha
leitura da notícia foi muito além do que supostamente desejaria o jornalista,
erro meu sem dúvida. Habituado a ler e a pensar em termos de metalinguagem
lembrei-me de outros significados da palavra inclinados e mesmo do verbo inclinar. Daí que tenha lido a noticia como:
Portugueses
estão abaixados; portugueses estão dobrados; portugueses estão curvados;
portugueses estão reverentes; portugueses estão desviados da verticalidade.
Sem surpresa,
algo triste, pensei:
Alguns
portugueses (habitantes de um dos mais obedientes protectorados alemães), país à beira do precipício , estão
pendentes e sem verticalidade, quiçá mesmo inclinados e sem salvação. Triste
sina a daqueles que não querem ver, má memória a dos que não querem recordar.
Se olhassem e se vissem, se recordassem e refletissem, se contemplassem o
horizonte perscrutando e interrogando, se se imaginassem como peixes, se, por
alguns instantes, encarnassem a vida de peixes inclinados e subjugados veriam junto
à margem um isco apetitoso e apelativo, sem demora correriam ao alimento fácil.
Mas, se por força das marés hirtas pudessem observar fora de água toda a
movimentação de Costa veriam um anzol.
Último
pensamento - Será que os portuguese são como os peixes?
- Não sei,
apenas recordo que há um provérbio japonês que nos diz:
“ O peixe não vê o anzol, ele só vê o
isco”.
Terá sido
por isto, imagino, que o Padre António Vieira dedicou grande parte da sua vida
a fazer sermões aos peixes. Oxalá que nos mares brasileiros tenha servido para
alguma coisa, por cá parece que não serviu para nada. Por isso mesmo, não tarda
que a caça ao gambuzino seja o grande desígnio nacional.