“ O melhor espelho não reflecte o outro lado das coisas.”
Provérbio Japonês
António Lopes; Carlos Filipe; Ana
Martins, Anabela; Armando; Armindo Carvalho; Américo Penedos; Américo
Pereira; Carlos Filipe; Carlos Pereira; Carla Seixas; Carlos Silva; Eduarda;
Emília Quaresma; Fernando; Fernando Manuel; Fernando Martins; Gilberto; Helena
Filipe; Helena Farinha; Ismael, Júlia; Joaquim Ferreira; João Dias; José Luís
Costa; José Santos; José Vaz; Luís Figueira; Luís Martins; Luís Machado; Luísa
Galveia ;Manuel Rocha; Maria Guerra; Pedro Dias; Pedro Guerreiro; Rui Manuel;
Rui Cardiga; Sílvio Lopes; Teresa Jacinto; Telma Neves…
Voltámos à
escola, regressámos menos a uma escola menor, de aparência maior, com mais
alunos por turma, com mais confusão e desorientação. Fala-se em autonomia, mas
nunca, como agora, a escola pública foi tão controlada. O ministério não confia
em ninguém, não acredita nos diretores, assoberba-os com diretivas de última e
má hora que só prejudicam a boa gestão, odeia os professores, os funcionários
não são precisos. A escola pública está a saque e, tal como o país, sequestrada,
e cada vez mais nas mãos dos grandes interesses financeiros. Há menos
professores, repito, mais turmas, com mais alunos, mais alunos sem turma,
turmas sem professores, muitos, mas, muitos professores no desemprego.
Aparentemente, muito aparentemente, tudo parece funcionar sobre rodas. Nero,
vulgo INcrato, cada vez que fala, diz menos, mais pausadamente, mentindo mais e
iludindo outro tanto. A voz pseudo-pausada com que nos vai brindando traz-me à
memória, má memória, quiçá pesadelo, a outra alimária que um dia foi ministro e
a que chamavam “Gasparzinho”. Vá-se lá saber porquê, para mim, Nero e Gaspar não
passam de duas almas gémeas que encarnaram o lado mau de um dos piores e mais
terríficos filmes de terror.
As salas de
professores das nossas escolas são um misto de ilusão e cemitério. Esperança,
ilusão, desânimo e incerteza misturam-se numa raiva surda onde o cheira a traça
e incenso predominam. Um qualquer romance sobre a escola e os professores,
escrito a partir da escola e das salas de professores, só poderá ter um de dois
títulos: “ A vã ilusão de ensinar e o cemitério”, ou o “professor e o
cemitério”. Vivemos hoje, um dos capítulos
derradeiros do fim da vida do professor. Mas isso, caros amigos, fica para
outro dia, quero falar-vos, escrever, sobre outra coisa, que me dói, que me
entristeceu e, por estes dias, me angustiou. A dor da ausência. Os muitos
colegas, muitos dos bons profissionais, muitos dos bons amigos de que, agora,
só recordo a cara e a voz. Os que o “sistema” lançou “borda-fora” quando podiam
e deviam, dar mais, muito mais à escola, em saber e forma de estar. Falo claro
está nos “aposentados”, nos que já não aguentavam mais e, podendo, deixaram o “
inferno escolar”. Que futuro tem uma profissão de onde são afastados os mais
experientes, os que foram acumulando experiência e, em condições normais,
seriam o garante da transmissão de uma cultura de saber estar e fazer,
necessária à profissão. Bem sei que para o INcrato Arrobas, professor é
sinónimo de Robot programado para corrigir exames e corrigir mais exames, ainda
mais exames numa equação infinita de exames que um dia destes não servirão para
nada, quando, tarde, se descobrir que os males do ensino não se resolvem com
exames. De facto, só uma mente crática, na sua manifesta ignorância do que é
uma escola e o “ensino dito secundário” em Portugal, ousaria sonhar tal coisa.
Mas, o que
eu quero é “falar” dos que saíram, sem uma palavra, sem uma despedida, sem um
reconhecimento, mas tão só com a sensação de que estavam a mais, não podiam
mais. Não vos esquecerei, a escola não vos esquecerá. Várias gerações de
alunos, não vos esquecerão. De uma forma ou de outra, uns mais outros menos,
mas a vossa marca indelével ficou. BEM HAJAM! Grande abraço de solidariedade.
Nós, todos
os outros, na arena, de espada desembainhada, continuaremos fiéis aos mesmos
princípios de sempre. Uma coisa vos prometemos: as salas de professores transformar-se-ão,
num imenso cemitério, onde a curto prazo festejaremos o funeral político dos
Neros troicanos que um dia tiveram a veleidade de nos desafiar.
Abraço solidário!