domingo, 22 de setembro de 2013

BEM HAJAM !

“ O melhor espelho não reflecte o outro lado das coisas.”

Provérbio Japonês


António Lopes; Carlos Filipe; Ana Martins, Anabela; Armando; Armindo Carvalho; Américo Penedos; Américo Pereira; Carlos Filipe; Carlos Pereira; Carla Seixas; Carlos Silva; Eduarda; Emília Quaresma; Fernando; Fernando Manuel; Fernando Martins; Gilberto; Helena Filipe; Helena Farinha; Ismael, Júlia; Joaquim Ferreira; João Dias; José Luís Costa; José Santos; José Vaz; Luís Figueira; Luís Martins; Luís Machado; Luísa Galveia ;Manuel Rocha; Maria Guerra; Pedro Dias; Pedro Guerreiro; Rui Manuel; Rui Cardiga; Sílvio Lopes; Teresa Jacinto; Telma Neves…

Voltámos à escola, regressámos menos a uma escola menor, de aparência maior, com mais alunos por turma, com mais confusão e desorientação. Fala-se em autonomia, mas nunca, como agora, a escola pública foi tão controlada. O ministério não confia em ninguém, não acredita nos diretores, assoberba-os com diretivas de última e má hora que só prejudicam a boa gestão, odeia os professores, os funcionários não são precisos. A escola pública está a saque e, tal como o país, sequestrada, e cada vez mais nas mãos dos grandes interesses financeiros. Há menos professores, repito, mais turmas, com mais alunos, mais alunos sem turma, turmas sem professores, muitos, mas, muitos professores no desemprego. Aparentemente, muito aparentemente, tudo parece funcionar sobre rodas. Nero, vulgo INcrato, cada vez que fala, diz menos, mais pausadamente, mentindo mais e iludindo outro tanto. A voz pseudo-pausada com que nos vai brindando traz-me à memória, má memória, quiçá pesadelo, a outra alimária que um dia foi ministro e a que chamavam “Gasparzinho”. Vá-se lá saber porquê, para mim, Nero e Gaspar não passam de duas almas gémeas que encarnaram o lado mau de um dos piores e mais terríficos filmes de terror.
As salas de professores das nossas escolas são um misto de ilusão e cemitério. Esperança, ilusão, desânimo e incerteza misturam-se numa raiva surda onde o cheira a traça e incenso predominam. Um qualquer romance sobre a escola e os professores, escrito a partir da escola e das salas de professores, só poderá ter um de dois títulos: “ A vã ilusão de ensinar e o cemitério”, ou o “professor e o cemitério”.  Vivemos hoje, um dos capítulos derradeiros do fim da vida do professor. Mas isso, caros amigos, fica para outro dia, quero falar-vos, escrever, sobre outra coisa, que me dói, que me entristeceu e, por estes dias, me angustiou. A dor da ausência. Os muitos colegas, muitos dos bons profissionais, muitos dos bons amigos de que, agora, só recordo a cara e a voz. Os que o “sistema” lançou “borda-fora” quando podiam e deviam, dar mais, muito mais à escola, em saber e forma de estar. Falo claro está nos “aposentados”, nos que já não aguentavam mais e, podendo, deixaram o “ inferno escolar”. Que futuro tem uma profissão de onde são afastados os mais experientes, os que foram acumulando experiência e, em condições normais, seriam o garante da transmissão de uma cultura de saber estar e fazer, necessária à profissão. Bem sei que para o INcrato Arrobas, professor é sinónimo de Robot programado para corrigir exames e corrigir mais exames, ainda mais exames numa equação infinita de exames que um dia destes não servirão para nada, quando, tarde, se descobrir que os males do ensino não se resolvem com exames. De facto, só uma mente crática, na sua manifesta ignorância do que é uma escola e o “ensino dito secundário” em Portugal, ousaria sonhar tal coisa.
Mas, o que eu quero é “falar” dos que saíram, sem uma palavra, sem uma despedida, sem um reconhecimento, mas tão só com a sensação de que estavam a mais, não podiam mais. Não vos esquecerei, a escola não vos esquecerá. Várias gerações de alunos, não vos esquecerão. De uma forma ou de outra, uns mais outros menos, mas a vossa marca indelével ficou. BEM HAJAM! Grande abraço de solidariedade. 
Nós, todos os outros, na arena, de espada desembainhada, continuaremos fiéis aos mesmos princípios de sempre. Uma coisa vos prometemos: as salas de professores transformar-se-ão, num imenso cemitério, onde a curto prazo festejaremos o funeral político dos Neros troicanos que um dia tiveram a veleidade de nos desafiar.
Abraço solidário!