domingo, 17 de novembro de 2013

Receita Portuguesa

retirada da net

RECEITA PORTUGUESA

pegue-se num homem quase perfeito
mas com o corpo de setenta anos
o coração pesado os ombros caídos
a  memória esvoaçante

descarne-se bem retirando direitos
pensões privilégios de quem sempre
viveu acima das suas possibilidades
trabalhando de canga e de besta
sem desejos de  viajar nem horas
para poder passar uma noite num hotel

depois de bem descarnado dos excessos
que o poderiam tornar insuportável
recheie-se com precários e desempregados
misturando algumas ervas aromáticas
enviadas por emigrados resplandescentes
que fizeram baixar o índice do desemprego

deixe-se a marinar com vinagre e placebos
para retirar algumas poupanças clandestinas
que poderiam ir parar às mãos dos netos
gananciosos por não terem aprendido a moral
do futuro radioso nas escolas dos jotinhas

para não se dizer que vai ao forno a crestar
por ser politicamente incorreto e a imprensa
divulgar tirando conclusões apressadas
dizemos que vai a gratinar a baixa temperatura
com uma camadinha de demagogia e água benta
para não estorricar revelando tratos de polé
sofridos durante o consulado da grande coligação
serve-se frio bem frio na fria mesa dos vampiros

Firmino Mendes

Lisboa, 07.11.2013

A Cidade do Fim

Fugindo de uma família com a qual nunca se identificou, Fátimo – assim chamado por ter nascido no ano das Aparições – concorre a um lugar de professor no Liceu Infante D. Henrique, em Macau, acabando por permanecer quase toda a vida nessa cidade que, dividida em duas comunidades aparentemente estanques – a branca e a chinesa –, soube cruzar e reunir o melhor dos costumes de ambas, gerando uma atmosfera social deveras singular.
Retirado do blogue Planeta Márcia

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Eles comem tudo...

                                                             Foto : Luís Costa
Estou cansado de viver neste mesmo pequeno país que devoram 
Escudados pelas desculpas mais miseráveis 
Este charco bafiento onde eles pastam 
Gordos que engordam 
Ricos que amealham sem parar 
Idiotas que gritam 
Paneleiros que se agitam de dedo no ar 
Filhos da puta a dar a dar 
Enquanto dá a teta da vaca do Estado 
(…)
Estou farto de abrir a porta de casa e nada estoirar como na televisão 
Não era lá longe, era aqui mesmo 
Barricadas, armas, pedradas, convulsão 
Nada, não há nada 
Os borregos, as ovelhas e os cabrões seguem no carreiro 
Como se nada lhes tocasse -- e não toca 
A não ser quando o cinto aperta 
Mas em vez da guerra 
Fazem contas para manter a fachada: 
Ah carneirada, vossos mandantes conhecem-vos pela coragem e pela devoção na gritaria do futebol a três cores 
Pelas vitórias morais de quem voa baixinho 
E assume discursos inflamados sem tutano.
Extrato de “ Vernáculo”, letra dos UHF, do álbum: A minha Geração

Caríssimos colegas deixo-vos com um vídeo a mostrar nas próximas reuniões de pais. Parece-me mais esclarecedor que qualquer discussão sobre metas e outras tretas.

Para ver, ouvir e divulgar massivamente.