domingo, 10 de junho de 2018

Uma ideia de felicidade




Luís Sepúlveda é actualmente um dos autores que mais gosto de ler. Ao contrário de muita pseudo literatura, a escrita deste autor chileno alimenta-nos o espírito. Nos seus livros há vida, experiências de vida, lições para a vida e reflexões para nos fazer pensar. Não o conheço pessoalmente, pouco sei dele, mas, da leitura dos seus livros depreendo tratar-se de  um homem de carácter, de valores, um defensor da justiça, dos mais pobres e um humanista convicto. A sua escrita é empenhada, sincera e de certa maneira uma forma de cultura, com elevado desenvolvimento moral, só ao alcance de poucos. Li quase todos os livros, senão todos os livros que foi escrevendo, alegro-me cada vez que vejo um novo livro deste autor. Alegra-me a escrita simples, sintética e escorreita com que reflecte sobre assuntos que interessam ao  viver social. Lê-lo é como navegar num mar doce e manso que nos deixa felizes. Ao contrário de palavrosos e ignorantes comentadores televisivos, Luís Sepúlveda “sabe do que fala”, escreve sobre o que conhece, a sua literatura tem sumo, não se converte às modernices vazias de conteúdos e valores. Com este Homem aprende-se a viver e a ensinar que há moral nas acções e actos de uma vida. Acabei de ler “Uma ideia de felicidade”, livro cuja escrita partilha com Carlo Petrini, o fundador do movimento Slow Food. Os dois autores escrevem sobre o direito à felicidade, da sua importância para o homem, mas falam de muitas mais coisas que nos interessam, que nos tocam, não vos vou escrever sobre isso, desafio-vos para a leitura, depois falaremos. De qualquer modo, atendendo  ao que se está a passar na sociedade portuguesa, mais concretamente, sobre a triste situação de os professores, precisarem, mais uma vez, de lutar para serem tratados com dignidade não resisto a partilhar o que pensa Sepúlveda sobre o modo como devem ser tratados os professores, tendo como exemplo o que se está a passar no Uruguai:
...O único objectivo que temos para os próximos dez anos é acabar com a pobreza e garantir a todos os habitantes da nossa nação uma vida digna, como primeiro passo para termos todos, amanhã, uma existência plena, realizada e também feliz.
(...)   A sociedade uruguaia decidiu que o trabalho mais importante, e que deve ser honrado e premiado, é o do professor. Foi proposta uma lei segundo a qual nenhum parlamentar do uruguai, nenhum ministro, nem sequer o presidente, pode ter um salário superior ao de um professor primário. É um passo fundamental no caminho para a normalidade, para uma justa hierarquia dos valores : reconhecer o trabalho importantíssimo de uma categoria profissional que tem a missão de transmitir às novas gerações o conhecimento, a cultura, a tradição, todo um sistema de saberes.

Muitos dos grandes homens que conheci, e não acho que seja por acaso, fizeram do ensino a sua missão na vida e uma via para a recuperação de uma felicidade profunda, da realização pessoal mesmo em condições difíceis,...
(pp. 46 e 47 ).

Hoje , no  Portugal de 2018 e dos próximos anos, em meu entender, no combate político e sindical  dos professores é limitado falar  em igualdade de funcionários públicos, é preciso sim, exigir discriminação positiva , tratamento digno para quem tem a nobre missão de formar os cidadãos do futuro.
No dia em que o professor for só mais um entre os funcionários públicos, chorarei pelo meu país, chorarei por um país condenado à miséria, à pobreza  e sem futuro.