
Filme extraordinário, actual e mais que real. É francês, é suposto retratar a realidade das escolas suburbanas daquele país, mas olhando-o com atenção verificamos que a nossa realidade, pelo menos, a das zonas suburbanas das grandes cidades é a mesma ou muito semelhante. Por isso, incomoda-me o silêncio à volta desta película. Porque será? Por mostrar uma realidade dura e violenta que se vive dentro dos muros das escolas. Por mostrar a indigência, a brutalidade e o grau zero da aprendizagem vivido num significativo número de salas de aula. Por ser excessivo. Ou porque querem esconder a triste realidade em que se vai transformando a escola pública dos TEIPS, dos EFAS, CEFS e outras coisas que tais. O DIA DA SAIA tem tudo, está lá tudo, desde os defensores do politicamente correcto que, a mando do poder instituído, vão ignorando e mistificando a realidade, veja-se o papel do Reitor; os professores imbecis que em nome do etno-social cedem, alarvemente, até ao absurdo de perderem toda dignidade e não se aperceberem que nada fazem na escola. São os palhaços pseudo-intelectuais, os toscos que mortificam a profissão docente; os alunos marginais, a quem a sociedade não é capaz de educar no respeito pelos mais básicos direitos humanos e respeito pelo outro, mas que envia para a escola para serem entretidos e nela poderem perpetuar e aperfeiçoar toda a espécie de marginalidades. E, depois, há os outros, os muitos professores que querem ensinar, que remam contra a maré, que não desistem e que até à exaustão insistem em ensinar, motivar para a cultura, gritar pelo respeito pelo outro e pela diferença, representados pela personagem principal, Sonia Bergerac e pela sua amiga. São afinal as vítimas de um sistema educativo que não as apoia, não as ouve e se compraz em trucidar. O desenlace (final) do filme, o fim da personagem Sonia Bergerac, é de um significado extraordinário, de um simbolismo que merece toda a atenção e reflexão (não revelo, nem desenvolvo para não ”tirar” o interesse.)
Trata-se repito-o de um filme a não perder, a ver, a rever, a reflectir, a divulgar, um bom pretexto, um bom documento para a discussão sobre a Escola Pública que temos e a que queremos e, muito importante, qual o papel do professor nesta, nessa escola.
Em tempo de revisão do Estatuto da Carreira Docente é preciso “atirar” O DIA DA SAIA” à cara dos decisores da política educativa, pode ser que alguma coisa mude.
Em Lisboa, está em exibição no Cinema City Classic Alvalade, Av. de Roma nº100.
Antes Do Dia da Saia é exibida uma curta-metragem (15m) muito interessante, Deus não Quis, de António Ferreira, sobre a guerra colonial, o amor e os desígnios ou não desígnios de Deus.