terça-feira, 3 de novembro de 2009

Direito ao lazer.




A propósito de leitura, de escrita, de professores, de um tempo sem tempo em que já não há tempo algum...



Burrocracia, cada vez mais burrocracia, mais tempo na escola, mais trabalho inútil, mais desgaste, aos professores falta tempo para ler, para escrever, para irem ao cinema, ao teatro, enfim, cada vez falta mais tempo para se cultivarem. Falta o lazer, o simples lazer, a mais criativa e poética das artes. Como pode estimular a leitura quem lê cada vez menos, quem se cultiva muito menos do que devia. "Já nem tempo há para o marido e os filhos", dizem-me com ar triste e cansado algumas colegas. Depois há planos, grelhas e reuniões, mais reuniões, grelhas e planos. Planos , grelhas e reuniões para tudo e mais alguma coisa, grande parte para nada.Estamos a correr para onde ? O que nos espera, um mundo melhor, uma vida melhor? Cumpra-se simplesmente o tempo de lazer, abandone-se a escravidão dos papéis, a inutilidade ociosa dos que fingem que trabalham muito, cada vez mais embrutecidos, mais tristes, mais depressivos, mais infelizes. Cultivemos o prazer de ensinar e aprender, libertemo-nos das teias BURROCRÁTICAS que só oprimem. Sejamos felizes, façamos do saber algo diferente !Para isso muito coisa tem de mudar, sem demora, que o tempo urge, o tempo esgota-se... e, a paciência não é infinita...

A propósito do Plano Nacional de Leitura, do muito por fazer e do espanto manifestado no jornal PÚBLICO por existirem crianças de 10 anos que ainda confundem "nós com noz", o José Paulo Santos divulgou, no Interactic 2.0, um pequeno texto que merece uma leitura atenta. Leiam e reflictam :" Surpreendidos?! Receio que, se não melhorarmos as condições de trabalho dos professores, a situação vai piorar. Para ensinar,é preciso tempo para aprender e isso é algo que está a ser desperdiçado em tarefas burocráticas nas escolas. Os professores devem poder frequentar livrarias, bibliotecas, seminários, conferências nacionais e no estrangeiro. Não podem ser penalizados por quererem formação!Vejo-os enclausurados, engaiolados nas escolas, alheios ao mundo, completamente afastados das oportunidades. Repense-se no que estamos a fazer aos professores,às escolas, aos nossos alunos..e aos pais! E ao país !

O Estatuto da Carreira Docente, O Currículo Nacional e a Gestão Escolar têm de ser discutidos urgentemente!...

O Plano Nacional de leitura tem de ser mais ambicioso: ofereça-se livros às famílias; faça-se um programa diário na TV; convidem-se autores a falar dos seus livros que constem no PNL; criem-se passatempos onde se ofereçam livros, dicionários, enciclopédias! Campeonatos de leitura!Os nossos canais de televisão devem criar programas educativos, pedagógicos em horário nobre! Tanta telenovela, tantos passatempos descartáveis "embrutecem-nos"!Precisamos dos nossos professores! Precisamos que nos ajudem a mudar o rumo para uma melhor educação... De que precisam eles para que se cumpra um Portugal mais feliz?


5 comentários:

  1. Isso é muito triste, não é? Mas infelizmente é a realidade.Até me dá vontade de chorar...

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  2. É verdade, caro Luís. Temos andado muito preocupados com o modelo de avaliação e com a divisão da carreira (questões extremamente importantes, sem dúvida), mas não nos podemos esquecer esta burocracia (à qual chamas inteligentemente burrocracia) na qual nos temos afundado e sufocado nos últimos anos, inebriados (não no sentido figurativo) e consequentemente limitados para reagirmos de forma mais incisiva. Dizemos à boca cheia pela sala de professores e pelos corredores: "antigamente não havia nem metade destas papeladas e as aulas eram muito melhores". Pelo menos tinhamos mais tempo e mais motivação para fazermos melhor aquilo para a qual fomos recrutados: prepararmos as aulas para darmos o nosso melhor aos nossos alunos...
    Um agrande abraço.

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  3. Sérgio !
    Dizes muito bem, querem fazer de nós burrocratas. Até quando aguentamos. A continuar assim temos de voltar à rua, vai pensando nisso, pelo que vejo, temos de fazer alguma coisa se queremos alterações rápidas. O colegas têm razão . Por mim " mando à fava" muitas das grelhas.

    Grande abraço,

    Filipe.

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  4. Luís Sérgio !
    Nem imagina o quanto me tocou este post.Parabéns porque conseguiu interpretar muito bem o que se passa na escola,a nossa triste realidade. Ainda por cima está muito bem escrito. Obrigado.Felizmente que há pessoas como o L.Sérgio.

    ab,
    Anabela Lopes

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  5. Caro Luís Sérgio:

    Eu costumo dizer que quem tinha razão era a D.ª Esperança... e que a D.ª Esperança ensinou muito bem muitos e bons alunos...

    ... e quando me perguntam quem era a D.ª Esperança, eu elucido: era uma Senhora Professora, que foi minha Professora da 1ª à 4ª classe (antigamente chamava-se assim!)e que me ensinou muito bem (por vezes com umas reguadas talvez bem merecidas) e que não andava preocupada com projectos, com planos, com grelhas, com diagnósticos, com monitorizações, e com muitas outras coisas com que nos temos de preocupar agora!

    Como eu fiz a 4ª classe em 1964, provavelmente a D.ª Esperança já morreu... e afinal não foi a última coisa a morrer... pois nós ainda andamos por cá.

    Era uma Senhora Professora preocupada em ensinar, em transmitir conhecimentos e em educar. Era uma Senhora preocupada com aquilo para o qual nós já não temos tempo para nos preocuparmos. Agora só temos tempo para nos preocuparmos com as nossas preocupações...

    Já nem temos tempo para esperarmos que a esperança seja a última coisa a morrer...

    Mas continuamos a resistir, mesmo sem esperança!

    Direito ao lazer? Tempo livre? Para quê? Os Professores não precisam de tempos livres... Faz-me lembrar uma história passada num Congresso de Educação Física. Um colega alemão, para gozar com o professor português, para mostrar como tinha "tempos livres" durante as próprias aulas disse: - agora, nós por cá, é que é bom! Com os alunos é só bola e apito! Claro que o nosso colega não ficou atrás: - vocês ainda estão muito atrasados! Nós agora é só bola...


    Um abraço

    Armando Inocentes

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