domingo, 27 de junho de 2010

Lunáticos



A tecnologia a substituir os professores. O Grande sonho de J. Sócrates.

Uma escola descentrada da sala de aula, em que os alunos se espalham por espaços informais, com os seus computadores portáteis, cruzando-se com os professores na biblioteca e discutindo projectos - é esta a visão que a Parque Escolar tem para o ensino em Portugal.

Jornal Público, de 7/6/2010

Quando li isto pela primeira vez, nem queria acreditar, mas é verdade, confirmaram-me vários amigos de confiança.

O grande sonho de Sócrates, na visão da parque escolar. Agora compreendemos melhor para que serve a tecnologia nas mãos destes senhores: substituir os professores, claro. Sempre fica mais barato (e de que maneira) e, a qualidade de ensino, não sobe, voa. O melhor mesmo é, seguindo o exemplo de algumas faculdades voláteis, só haver aulas aos domingos. Olhem o quanto se poupava…E o sonho de aprender começa, agora, a dar os primeiros passos, finalmente, de “cagalhães” na mão podemos olhar o futuro de frente. Assim é que é! Qual “ quinto império “, qual quê! O futuro será hoje. A mui douta e iluminada mão socrática tirou-nos das trevas, a alegoria das cavernas esfumou-se, as aparências já não são nada que se pareça. Perante tais milagres, eu ateu, me confesso, eu ateu me converto. Oremos ao senhor, o milagre da tecnologia aconteceu. A mão divina anda ai. Um novo reino se adivinha, o paraíso não será mais coisa de vindouros, aproveitemo-lo.

E, por favor, se encontrarem o diabo, digam-lhe que me leve este milagreiro daqui. Doze mil almas lhe agradecerão. E, não sei porquê, só me apetece gritar: Delenda est Sócrates !

Notícia do Público ( Clica Aqui).

O ministério anti-professor( Clica Aqui).

Lunáticos , prefiro os verdadeiros, por isso deixo-vos o "Estou na lua." Agradeço publicamente à Rosa Silvestre que nos recordou esta música. Ouçam , divirtam-se e aproveitem para "esquecer" a canalha que desgoverna a educação e o país.

14 comentários:

  1. Caro Luís
    Quero acreditar que tal nunca será possível. Como sabes, estou ligado às TIC e não acredito que alguma vez a máquina consiga substituir ou mesmo aproximar-se à relação humana. Como responsável das TIC, tenho naturalmente sensibilado e ajudado professores e alunos a trabalharem com as TIC... sempre como ferramentas de apoio, nunca como substitutas do que quer que fosse. O problema é que destas cabeças nunca se saber o que vem ou o que esperar. Junte-se a proposta do Conselho de Escolas sobre a reorganização curricular, junte-se a proposta de fusão de Agrupamentos... junte-se tudo o resto que já cansa enumerar. Até quando?????
    Um abraço para ti e para todos os internautas.

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  2. Caro Luís Sérgio:

    É fácil.... facílimo...

    "uma escola descentrada da sala de aula, em que os alunos se espalham por espaços informais, com os seus computadores portáteis, cruzando-se com os professores na biblioteca e discutindo projectos" num Mega-Agrupamento, com tanta "uniformização" a que temos assistido, só pode resultar num "campo de concentração"!

    E não se esqueçam do arame farpado à volta!

    Grande Abraço.

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  3. Caro Luís Sérgio !

    Tudo isto é demasiado triste. Quase não dá para acreditar. Só mesmo com muito humor é que conseguimos aguentar tanto disparate.
    Bjs,

    Professora

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  4. Do Óscar Martins ( via Email ) :


    Caro Luís Sérgio,

    Sim, realmente, acho o mesmo.

    Mas, para além de poupanças claras que o Estado faria com um “modelo educativo” desse tipo, essa perspectiva tem também muito de show off. Para alguns, essa retórica tecnológica terá um certo “estilo”, pelo menos para certas perspectivas “educativas”.
    Tal como em relação a outras coisas, será “moderno”, e “progressista”. Portanto, será algo de bom!

    Um abraço,
    Óscar

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  5. Caro Luís Sérgio

    Não é de todo estranho para mim que as TIC possam vir, a breve trecho, preencher um 'espaço' tão significativo na vida da escola. Tenho pena é que esse preenchimento seja feito em detrimento, quase absoluto, da relação próxima, sensorial e afectiva com o outro. Correremos um sério risco de nos tornarmos todos um pouco autistas, visto que o contacto visual e físico deixa de fazer sentido, uma vez que nos passaremos a 'encontrar' através das redes sociais, skypes, messengeres e afins, mesmo estando no mesmo espaço físico.
    Será esse o futuro? Provavelmente sim, e é com grande tristeza que o reconheço!
    O que não posso admitir é a substituição tão apressada (por todo o significado político que implica! pelo show off! e tudo o mais que deve parecer mais do que ser!) desta interacção, pela utilização quase exclusiva da máquina, sem que os lugares físicos e afectivos de que os alunos devem, por enquanto, usufruir, estejam tão "cuidadosamente" es(quecidos)condidos, sujos, descuidados, destruídos, enquanto se faz de conta que tudo vai bem, através de exteriores coloridos e encantadores.
    A máquina vence o homem, a imagem vence o conteúdo e a palavra deixou de ser honrada, séria, verdadeira e tão forte como a mais poderosa lei.
    Em que seres nos tornaremos nós?
    Não consigo responder a esta questão mas de uma coisa estou certa, temos o dever, a que a nossa condição de educadores nos obriga, de fazer alguma coisa.
    Um grande abraço
    Guida

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  6. Caro Luís, cara Guida:

    Sou céptico quanto a termos estas tecnologias, nem que seja a 50%, nas nossas escolas... Penso que tanto nós como os nossos alunos nos continuaremos a relacionar socialmente mesmo que elas existam (o que de facto para já é sem dúvida show off!).

    De memória, uma teóloga alemã disse: Querem ver uma criança feliz? Ponham-lhe uma bola nas mãos...

    Quadros interactivos? Scanners e impressoras (nem dinheiro temos para comprar os tinteiros... e as resmas de papel oferecem-nas os pais dos alunos... numa escolaridade obrigatória e gratuita!)? Um computador por aluno? Na minha escola para cerca de 400 alunos há 11 computadores na biblioteca... e nem todos têm o "cagalhães" - como diz o Luís!

    A máquina não vai vencer o homem porque não tem afectos, a imagem (apesar de valer mil palavras) não vai vencer o conteúdo porque este, para além de denotativo, pode ser também conotativo, e a palavra continuará a ser honrada, séria, verdadeira e tão forte como a mais poderosa lei - pelo menos a de alguns, a daqueles que não calam a sua voz!

    Um grande abraço aos dois

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  7. Caro Armando!
    Há muito defendo a introdução da tecnologia na escola, mas nunca para substituir o professor, as tecnologias só fazem sentido nas escolas enquanto ferramentas pedagógicas para auxiliar professor e alunos. A tecnologia não deve passar disto, de uma ferramenta, assim enquanto ferramenta bem utilizada poderá ser muito útil. O grande problema em Portugal está nos objectivos com que se lançaram as TIC, na escola, não como ferramenta, mas como estratégia política de Show off, ao a serviço de uma política de restrição e subjugação do capital humano - submeter e substituir os professores. Como se um martelo e o cimento fizessem sozinhos uma casa). Sócrates sonhou, a mando dos interesses europeus, que se mandasse milhares de martelos para um terreno, de lá sairia uma casa. Foi um sonho vão, uma estratégia eleitoralista que ruiu.
    O computador e outras ferramentas da Web 2.0 há muito deveriam ter substituído a ardósia, mas como ferramentas que são, tal como a ardósia o era. Só que, quando levávamos a ardósia para a escola sabíamos para que servia, qual era o seu fim. Alguém sabe verdadeiramente que fim pedagógico servem “os cagalhães”. E, porque não se equiparam as escolas com o dinheiro gasto nos diferentes projectos de portáteis. O que resta disto tudo… Temos melhor ensino, há mais sucesso real, há mais aprendizagem, há menos burocracia, há menos stress, os professores estão menos tempo na escola, ganharam mais liberdade e autonomia? Que ganhámos? Se as respostas forem negativas, significa claramente, que utilizamos o martelo para bater nos dedos e na cabeça uns dos outros, como maluquinhos, por culpa de uma política educativa caduca e nefasta, estamos, na maior parte dos casos, a utilizar as ferramentas para partir cabeças e não para adquirir mais saber.
    Parece-me que o problema, não está na ferramenta, reside no se saber qual a política educativa que determina, dirige, está no saber para que serve, no como e para quê utilizá-la.
    Quais os seus limites, quando posso e devo pô-la de lado. O problema de Sócrates e seus sequazes para a educação é que, são uma espécie de Rei Midas ao contrário, tudo em que tocam se transforma em porcaria. O mal é que quem paga somos nós.

    Grande abraço,
    Luís Sérgio

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  8. Como disse Mark Twain, para quem a única ferramenta é um martelo, todos os problemas são pregos...

    O problema é que há muitos martelos...

    Um abraço

    Armando

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  9. Sérgio !

    Concordo como o que dizes,e, também com as questões pertinentes levantadas pelo Armando.Coloco uma dúvida : Quando e como introduzir as TIC no 1ºciclo. Será bom utilizar tecnologia quando ainda não se sabe ler, nem escrever e contar? Ou será que o magalhães é mais uma "treta" para os pais se entreterem e divertirem.
    O J.S. Imagino que se tenha divertido e muito... mas para as escolas e professores foi só um "Um monte de trabalhos".

    Grande abraço,
    Filipe

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  10. As TIC não podem, de maneira alguma, substituir os professores. Elas não funcionam sozinhas, são antes ferramentas de apoio, em algumas vezes, servem para orientar o trabalho, mas claro está mas também não são nenhum milagre. Como invenção do homem também têm defeitos e saber trabalhar bem com elas não é tão fácil como se imagina .... na realidade, vão substituindo antigas ferramentas de apoio, como os quadros tipo ardósia mas para funcionarem bem os professores têm que acompanhar e realizar actualizações necessárias, é certo.
    A 1ª vez que dei aulas (nessa altura no grupo 11º B)em ciências naturais, as nossas ferramentas eram os quadros negros e alguns laboratórios que existiam e em que se faziam algumas experiências. Hoje já abundam por aí alguns quadros interactivos,situação por mim não vivenciada ainda mas no superior já usei os reprojectores de tecto tipo datashow e gostei ... torna-se mais fácil, mas não se deve abusar, tentando inovar sempre que for possível, com a introdução de outras ferramentas ....
    Um excelente post, como seria de esperar. Parabéns, abraço, RS.

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  11. Caro Luís Sérgio.

    Só ontem soube do falecimento da tua mãe! O meu profundo lamento.

    Sei quanto é difícil perdermos um ente querido, pois o meu pai também se foi há dois anos. Ele costumava dizer, lá do alto da sua costela transmontana, que "ninguém fica cá para semente" e eu retorquia-lhe que o que interessava era a semente que cá deixávamos.

    A tua mãe fez uma boa sementeira - tu és a prova disso!

    Mas temos de ganhar forças para continuar...

    Um grande abraço meu e de toda a família.

    Armando Inocentes

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  12. Caro amigo Armando !

    Muito obrigado pelas tuas palavras.As pessoas de que gostamos nunca morrem completamente, continuarão sempre na nossa memória. estão presentes nos nossos actos e só não conseguimos e falar com elas, mais uma vez, um grande abraço e, obrigado pela solidariedade.

    Luís Sérgio

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