quinta-feira, 1 de setembro de 2011

VOLTAR.


Foto : Luís Sérgio


Não voltes a um sítio onde já foste feliz, dizem. Os professores estão condenados a voltar a um sítio onde foram felizes, pois é, foram! Outros infelizmente nem isso, são desterrados, enviados para lado nenhum, sem sequer sair de casa. Triste fado o desta profissão, ao que isto chegou, só se está bem onde não se está. Mas será que estamos condenados a ser felizes num outro tempo, noutra escola, noutro país, noutra vida. Será útil, tem sentido vivermos na saudade, no passado e embarcarmos na barca infernal sem termos cometido pecado algum. Temos ou não direito à vida, a uma vida melhor? Como escreveu o J.L. Peixoto: Vida, se nos estás a ouvir sabe que caminhamos na tua direcção. A nossa liberdade cresce ao acreditarmos e nós crescemos com ela, tu, vida, cresces também (…) Diz-lhe que impossível é negarem-te, camuflarem-te com números, diz-lhes que impossível é não teres voz”. Pois é, está difícil, mas a única coisa de que devemos ter saudades é do Futuro, do Futuro Hoje, aqui e agora. Está nas nossas mãos ser felizes, escolher a felicidade, o direito à vida. Está nas nossas mãos olhar o futuro, perseguir o azul está ao nosso alcance e, quando nos quiserem mostrar o contrário, resistir, resistir sempre. Nada nos obriga ao inferno, o segredo está na escolha, na opção que fizermos. Numa das minhas incursões literárias de férias reli As Cidades Invisíveis de Italo Calvino. Se calhar, como este ano as viagens ficaram aquém do esperado, refugiei-me na ficção, e não é que com Calvino relembrei como olhar o mundo, e, deste modo, reaprendi que é possível contrariar o que afirmei no início do post, ou seja, é possível voltarmos à escola e continuarmos felizes. Até parece mentira! Meus amigos, colegas, leitores, se tiveram paciência, e, por alma vá-se lá saber de quem me conseguiram acompanhar até aqui, não desistam agora, e vejam como termina este magnífico livro de Calvino que tomo a ousadia de vos aconselhar: E já o Grão kan folheava no seu atlas os mapas das cidades que nos ameaçam nos pesadelos e nas maldições: Enoc, Babilónia, Yahoo, Butua, Brave Nem World. (…) E Polo : - O inferno dos vivos não é uma coisa que virá a existir; se houver um, é o que já está aqui, o inferno que habitamos todos os dias, que nós formamos ao estarmos juntos. Há dois modos para não o sofrermos. O primeiro torna-se fácil para muita gente: aceitar o inferno e fazer parte dele a ponto de já não o vermos. O segundo é arriscado e exige uma atenção e uma aprendizagem contínuas: tentar e saber reconhecer, no meio do inferno, quem e o que não é inferno, e fazê-lo viver, e dar-lhe lugar.”

Bom ano lectivo a todos,
Grande abraço de solidariedade.

Vejam Bem …




5 comentários:

  1. Amigo Luís !

    Obrigada, pelos votos de bom ano lectivo, para mim não marca o regresso à mesma escola, depois de vários anos tive de mudar. Foram umas férias para esquecer, mas agora até estou optimista, mudar de ares poderá ser muito bom. Boa sorte para ti. Continua a escrever que é de professores e amigos como tu que precisamos.
    Beijinhos,
    Anabela Lopes

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  2. Gostei muito deste teu escrito, realmente é preciso realizar a escola, não nos conformando com os enormes injustiças que têem crescido de há uns anos para cá!

    Um abraço

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  3. Sarte dizia que o inferno são os outros...

    Será que o inferno não somos nós quando "aceitamos o inferno e fazemos parte dele a ponto de já não o vermos"?

    Salvo erro, pois cito de memória, Stéphane Hessel termina o seu livro «Indignai-vos» com a seguinte frase: "Resistir é criar".

    Criemos resistindo, voltando felizes a um sítio onde já fomos felizes, mas com ideias e intenções de nele voltarmos a ser felizes e de o fazermos feliz!

    Grande abraço e melhor ano lectivo que o anterior (o que não deve ser fácil!)!

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  4. Caro amigo , Luís Sérgio !
    Para não variar brindas-nos com mais um bom texto.
    Mais um ano, não espero nada de especial, não vejo nada de realmente novo, parece-me não sei se estou enganada que é cada vez maior o número dos que :"aceitam o inferno e fazem parte dele". Como eu os destesto, egoístas e andam eles e elas a vender moral aos nossos alunos.
    Perdoa o desabafo.
    Um excelente ano para ti que bem precisas e, um grande , grande abraço de solidariedade.
    beijinhos.
    Professora.

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  5. Companheiro !
    Cá estamos para nova jornada. Pouco gloriosa pelos vistos, a tralha , a peste negra anda aí, pelos vistos nada muda , só as moscas.

    grande abraço
    Filipe

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