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Foto: Luís Costa |
O Mata-Professores.
Versão 2013.
Cinco pontos
de total discórdia com uma mente refém de espíritos erro cráticos.
Mas, afinal, o que move D. Crato, desde quando está
preocupado com os alunos?!
Por onde andou, em que navio navegava o ministro quando o seu
ministério aumentou o número de alunos por turma. Por esta altura, o Sr.
Arrobas estava preocupadíssimo com os alunos? É que, se os professores tivessem
30 alunos numa sala em vez de 20 ou 22, mais facilmente poderiam colocar em
prática pedagogias diferenciadas, e, sobretudo, mais que tudo, a atenção a dar aos
alunos cresceria exponencialmente numa multiplicação, só entendível, só compreensível,
por um espírito aritmeticamente iluminado. Não me lembro, que tenha vindo a
terreiro, encomendar entrevistas, a acusar o seu ministério de estar refém de
interesses economicistas em detrimento das condições de trabalho e da atenção aos
alunos em sala de aula. Isto sim mostraria a sua independência, a sua
preocupação com o mérito e com o sucesso. Mas, se calhar nessa época, chovia, e
as mesmas águas que impediram a nossa economia de crescer levaram na enxurrada
as ideias do Crato do plano inclinado que, de tanta inclinação desabou nas mais
nefastas práticas de um neoliberalismo sem freio e sem vergonha.
Sabe Sr. Nuno Arrobas, eu que conheço melhor as escolas que o
ministro Crato. Desafio-o a provar publicamente o contrário, digo-lhe que nas
escolas portuguesas não há professores a mais, o que existe claramente é
ministério da educação a menos, ensino a menos, condições de trabalho e apoio
aos alunos a nível zero, com economia aos serviço do IV Reich a mais. Mas,
colocando a hipótese mentirosa, falaciosa e enganadora de que temos docentes a
mais, de que modo seria possível requalificá-los e não despedi-los? Já agora,
por favor, ensine os verbos aos senhores do seu governo, diga ao Rosalino e ao
Casanova, que requalificar é um verbo
transitivo que significa tornar a qualificar; qualificar de novo e não como
eles pensam e dizem à boca cheia: despedir e terminar o vínculo laboral. Há
dias, ouvi do Sr. Rosalino uma pérola que me provocou náusea, quando ele
afirmou em entrevista ao “diário económico”, que não há despedimentos na função
pública: “quando terminam a mobilidade
especial as pessoas não são despedidas, perdem o vínculo, não há despedimento“. Cito de cor, não escrevo mais
senão ainda dou algum murro na secretária e o desvio colateral já vai longo.
Estava eu a falar de que modo seria possível requalificar os professores. Convém
frisar que entendo que os professores não precisam de requalificação, os
professores das nossas escolas têm as qualificações mais do que suficientes
para exercer a sua função, e são obrigados a frequentar formação toda a vida.
Diga-me qual a outra profissão em que existem mais licenciados, mestres e
doutorados por km2? Falar em requalificação para a docência é sinal de
ignorância, má-fé ou quiçá, provocação.
Apesar de tudo, e para irmos ao que interessa, imaginemos
que por um drástico abaixamento do número de alunos sobravam alguns horários de
professores. Que poderia e deveria fazer um ministro preocupado com o mérito,
com o sucesso dos alunos, e acima de qualquer suspeita põe os alunos reféns das
condições de trabalho e está preocupado em lhes garantir todos os recursos
humanos e outros? A ser verdade, o senhor seria um homem de sorte.
Primeiro - Teria aquilo que muitos sonharam e
não conseguiram, baixar de uma vez por todas o número de alunos por turma: 20,
22 no máximo.
Segundo - Ficaria com professores disponíveis para o apoio a todos os alunos que efetivamente
o necessitassem.
Terceiro – Resolveria uma pequena parte da indisciplina que grassa nas nossas
escolas.
Quarto – Nalguns casos, depois de devidamente avaliada a situação, seria
possível colocar dois professores em aula, podendo diversificar as estratégias
e reforçar o apoio no momento de ensino/aprendizagem.
Quinto – Atribuiria mais horas aos Diretores de Turma, para que sem perda da sua
sanidade mental e saúde física consigam resolver todos os problemas e façam um acompanhamento
efetivo dos alunos.
Chegados aqui, aplicadas estas poucas e simples medidas,
concluiríamos que há escola a mais para tão poucos professores. Faça as
contas e verá que tenho razão. Some todas as horas, minutos e segundos que já
nos roubou e na sua consciência poderá constatar que pretender alargar o
horário dos professores para as 40 horas é não perceber nada de ensino, muito
menos de educação.
Reduzir o professor à condição de operário fabril que cumpre
ao limite do seu esforço intelectual e físico uma tarefa angustiante é revelar
uma concepção de professor, capaz de se enquadrar numa visão proto industrial
da exploração capitalista, nunca uma visão de um professor disponível para o
conhecimento e para o trabalho numa escola pública de sucesso.
Por último, senhor Nuno Arrobas, liberte-se das amarras de
amanuense do IV Reich e explique aos alunos e aos pais por que razão o senhor é
incapaz de aplicar as medidas que acima enunciei.
Diga-lhes quem é que está refém das greves, explique-lhes
porque não quis “ceder” antes dos professores, em nome da sua dignidade, em
nome dos alunos, em nome da docência, em nome da escola pública, em nome do
país, em nome da decência, não terem outra alternativa senão lutar.
O senhor e o seu
ministério roubaram-lhes o prazer e a vontade de ensinar, roubam-nos a vida e
ainda querem que lhes agradeçamos. Mas estava à espera de quê? - De mais um
milagre da Sra. de Fátima.