terça-feira, 27 de outubro de 2009

Escolas TEIP . Parte I





Escolas TEIP. Algumas dúvidas e interrogações.



Territórios Educativos de Educação Prioritária. Já o afirmei publicamente, várias vezes, não tenho uma posição definitiva sobre a atitude a seguir face uma linha política educativa que pretende transformar muitas das escolas portuguesas em TEIP. Mas tenho confesso, algumas objecções, muitas dúvidas e outras tantas interrogações. Esta perspectiva parte, em teoria, de um pressuposto positivo com o qual concordo em absoluto: apoiar os estudantes oriundos das camadas sociais mais desfavorecidas, discriminar positivamente estes estudantes, apoiá-los, dar-lhes mais condições de estudo e trabalho. Conseguir, deste modo, que a escola, de espaço de reprodução se transforme em local de transformação e ascensão social, mantendo qualidade de ensino e aprendizagem é, repito, um princípio nobre com o qual me identifico.
Mas será que são estes os desígnios que os actuais mandantes da política educativa perseguem com a criação destes ditos territórios? Aqui começam verdadeiramente as dúvidas e algumas das objecções. A criação dos TEIP, como o próprio nome indica pressupõe um compromisso com a comunidade envolvente, a questão é que até agora a “comunidade” viu nos TEIP mais uma forma de entrar na escola para se promover, para ganhar alguma coisa. Nas escolas portuguesas nestas e em todas as outras é chegado o momento de perguntarmos: O que é que a comunidade pode e deve dar? Afinal, com o que é que podemos contar para termos melhores escolas e melhor ensino. Há a miragem dos recursos: mais dinheiro, mais técnicos, etc., etc. Como se o mais dinheiro e os mais técnicos só por si resolvessem os problemas. Tem acontecido que algumas vezes só vêm atrapalhar. Na ausência de uma política educativa exigente e pedagogicamente esclarecida sobre o caminho a seguir, mais dinheiro e mais técnicos poderão não resolver nada e gerar mais confusão, mais caos e desperdício de recursos financeiros e humanos com custos para todos nós. Acontece que em algumas destas escolas os “projectos se atropelam uns aos outros” e ninguém sabe bem o que anda a fazer nem para quê. Os professores fazem (sobra sempre para eles e para os funcionários), desgastam-se e no final de cada ano lectivo, a qualidade de ensino e a escola pública vão minguando e as instâncias oficiais cantam alegremente o sucesso forjado. Muitas destas escolas numa retórica sofista e ignara endeusaram a não directividade e o mais que tudo, o supra sumo são as áreas projecto e o brincar à cidadania, os conteúdos, a verdadeiro ensino e a correcta aprendizagem são relegados para terceiro ou quarto plano. Esquecem estes sofistas ignaros que são precisamente os alunos destas escolas e, sobretudo, os oriundos das camadas sociais mais desfavorecidas quem precisa de mais directividade, mais regras, mais orientação e apoio. A escola pode e deve compensar o que as suas famílias não conseguem oferecer: objectivos, normas e competências para vencer na vida. Deseducá-los na não directividade,significa perdê-los, nada ensinar, e desperdiçar tempo e recursos. “Os projectos devem partir dos alunos e só dos alunos”, dizem. Que bonito, que comovente. Educar é formar, trabalhar, forjar. Aprendamos com o ferreiro, se alguma vez esperasse que o ferro se fizesse a si próprio, ainda hoje esperaríamos pela primeira peça saída das suas mãos. Quem ensina molda, quem molda constrói e, o novo aluno, a nova escola não nasce por si só, constrói-se. O resto é música celestial para entreter alguns anjinhos.
Mas se a questão das escolas TEIP se reduzir no essencial a uma mudança de estratégias e metodologias, não precisamos deste modelo para nada. Uma liderança democrática, progressista e inovadora que envolva todos os intervenientes no processo educativo, capaz de mobilizar e criar condições de trabalho aos professores e alunos terá mais efeito, será mais eficaz do que mil projectos de territorialização. Às vezes, quando penso nestas escolas, lembro-me das reservas índias do velho faroeste americano, todos sabemos o que aconteceu aos índios, preocupa-me que a educação e a escola pública sigam o mesmo destino se não se alterar substancialmente a visão do poder sobre a ESCOLA.
Por hoje, com o agradecimento ao José paulo Santos do Interactic 2.0, deixo-vos com um vídeo - O OLEIRO - (sem palavras ), mas na minha opinião uma excelente metáfora da educação , da aprendizagem, da construção da aprendizagem e do saber, sobretudo, do saber partilhado. " Percam alguns minutos , vale mesmo a pena...

11 comentários:

  1. Excelente reflexão, caro Luís, o que em nada me espanta. Nunca trabalhei numa escola TEIP nem conheço relatos de quem lá trabalhou. No entanto,acompanho algumas reflexões e por isso compreendo claramente o teu ponto de vista.
    Um grande abraço.

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  2. Sérgio !

    Tal como o colega João, acho que se trata de uma Excelente reflexão. Esta gentalha preocupa-se com o entreter dos meninos, ensinar e aprender nada. Como tu sabes já "trabalhei numa escola " TEIP e sabes qual é a minha opinião. Concordo contigo em absoluto e, digo mais : PUTA QUE PARIU AS ESCOLAS TEIP ! Desculpa a linguagem, mas comigo é mesmo assim...

    Grande abraço !
    Filipe.

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  3. Ainda o Filipe !

    Gostei muito do vídeo, foi uma excelente ideia para terminar.

    Abraço,

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  4. Escolas TEIP:

    Territórios Educativos definidos? Sim - os agrupamentos, ou antes, os amontoamentos...

    Intervenção Prioritária? Qual? No meu agrupamento pelo menos ainda falta um Prof. de Ensino (ou de Educação?) Especial...

    Prioritário o quê? Antes era a doença das projectites, agora é a doença das grelhas e das monitorizações!

    Planos de contingência? Sim, mas que prevenção??

    Lá ter, temos (e de tudo), mas que meios temos e com que qualidade?

    Um abraço

    Armando Inocentes

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  5. Caro João !
    Obrigado pelo teu comentário. Parece-me extremamente importante que, cada vez mais, os professores comecem a tomar posição sobre todas estas coisas que nos querem impingir, esta é mais uma estratégia de ataque à escola pública e à carreira dos professores. Assunto que abordarei na parte II.

    Grande abraço,

    Luís Sérgio.

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  6. Tens razão Filipe !
    Entreter para fazer de conta e, as escolas vão-se transformando num imenso ATL de favela.

    Grande Abraço

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  7. Caro Armando !

    Muito obrigado pelo teu comentário. A tua contribuição enriquece este espaço, por todas as razões e mais uma, a de vir de alguém que trabalha num agrupamento TEIP, "mais um amontoamento", como muito bem dizes . E, pelos vistos, o prioritário é mais "burrocracia".E, as colocações de professores e a carreira? Se não nos "pusermos a pau" Os TEIP serão o "Cavalo de Troia" para o traiçoeiro assalto final. Estes senhores não querem qualidade, querem escolas de favela, a qualidade fica para os privados. Mas só avançarão se quisermos.
    Mais uma vez, obrigado pelo contributo."vai aparecendo".

    Grande abraço,
    Luís Sérgio

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  8. Caro Colega !

    Realmente nunca percebi muito bem para que servem estas TEIP. Chamem-lhe o que quiserem, mas o que nós precisamos são escolas democráticas, de qualidade e públicas. Afinal as manobras continuam.

    Abraço,

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  9. DO ÓSCAR Martins

    Via e-amil :

    Caro Luís Sérgio,

    Um texto muito lúcido acerca da realidade das escolas TEIP, assim como da “filosofia” que lhes está subjacente.
    PS: O vídeo também está interessante.
    Um abraço,
    Óscar

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  10. Caro Professor !
    Concordo em absoluto , precisamos de escolas públicas , democráticas e de qualidade. O resto diz e bem são : "manobras" e, eu acrescento de diversão.
    Abraço,
    Luís Sérgio

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  11. Caro Óscar !
    Obrigado pelo simpático comentário.Modestamente, tento resistir com muitos de vós à tentativa de destruição da escola pública. Compete-nos a nós professores demonstrar de uma vez por todas, que não somos um simples massa, mas sim : massa crítica.

    Grande abraço,
    Luís Sérgio

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