sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Oito pontos de discórdia.







A propósito da entrevista da ministra da educação, Isabel Alçada, à RTP 1, ontem, dia 12 de Novembro de 2009.



A raposa disse um dia à galinha: “Temos que nos encontrar para conversar e fazer as pazes”. Mais tarde na floresta só se viam penas de galinha.
La Fontaine


Exma. Sra. Ministra!

Vi e ouvi com muita atenção a sua entrevista a Judite de Sousa. Tinha, confesso, expectativas elevadas, esperava (se calhar fui ingénuo) ouvir algo de novo que me satisfizesse, alguma coisa realmente pensada, real e verdadeira, que deitasse por terra o meu cepticismo em relação ao que poderá ser o seu consulado. FIQUEI DECEPCIONADO! E porquê?
- V.Exa. não foi clara naquilo que pretende. Não foi clara nem objectiva em grande parte da entrevista, refugiou-se em lugares comuns, ideias vagas, em algumas frases feitas e simpáticas. Agradeço a sua simpatia, a sua disponibilidade, o seu ar feliz e simpático, as suas intenções. Os afectos são importantes, sem dúvida, mas depois de tudo o que lutei, lutámos, quero mais, exijo mais. Beijinhos e abraços não me calam.
2º- Decididamente assumiu que este modelo de avaliação é para manter até ao final do ano, quando o que se exigia, sem tibiezas, sem medo, aí sim, mostrando claramente vontade de mudar, suspendesse imediatamente esta farsa inútil e monstruosa de que querem aproveitar meia dúzia de oportunistas. Tal como o seu adorado chefe, alinha na velha e relha teoria do dividir para reinar. A intenção pode não ser essa, mas de intenções também já estou farto, é tempo de actos e de atitudes claras e de efeito prático.
3º- Divisão artificial da carreira, mais uma vez, não percebi o que quer, ao que vem. Essa teoria de que “nem todos podem ascender ao topo”, traz “água no bico”, já ouvi isto antes, a outras personagens. Na verdade, não percebi o que realmente e verdadeiramente pensa desta divisão medieval e artificial da carreira docente. Gosto que me falem claro, que sejam leais, uma negociação exige clareza e lealdade, exige que se coloque em cima da mesa e sem subterfúgios o que se pensa e o que se pretende. Confesso-lhe, com pena, vi jogo escondido, ou se calhar enganei-me e, tudo não passa de mero desconhecimento dos dossiês. Vinte e sete anos fora do 2ºCB são muitos anos, não é?! A realidade quando não a vivemos por dentro escapa-nos muito. Por mais que tentemos, por mais análises que façamos, foge-nos e ilude-nos.
4º- Essa de criar metas para todos os anos de escolaridade e, logo com o Sr. Natércio Afonso, “cheira-me a esturro “, a borrasca da grande. Bastava que se cumprisse com o que existe em termos de objectivos e competências e não se quisesse “passar os meninos à força” e tínhamos o problema resolvido. Pense seriamente nisto. Já agora, como conciliar a não retenção com as metas. Ou será que as metas serão assim como uma espécie de “Insustentável leveza do Ser“ aplicada à educação. Talvez, algo fugidio, flexível e fugaz para ninguém cumprir. Regulamentos e legislação kafkiana já temos de mais, por favor, liberte-nos dessa praga.
5º- Modelo de gestão escolar, ainda não foi desta que a ouvi dizer o que pensa sobre o tema, a culpa se calhar até não foi sua, não lhe foi colocada a pergunta, mas dentro da globalidade de que tanto fala porque não esclarecer as suas ideias a este propósito.
6º- Alguns pontos, aparentemente, positivos: horários dos professores, estatuto do aluno, autoridade do professor. Mas, foi tudo tão vago, tão comum e sem substância que nem sei que dizer, que nem sei que pensar. Será para já, é para protelar e ganhar tempo como deseja o chefe? Dou-lhe o benefício da dúvida (In Dubio Pro Reo), mas, “lá que estou desconfiado e céptico é verdade.” Desminta-me, faça-me, faça-nos, acreditar.
- Até sou optimista, e estou convicto que algumas destas coisas vão mudar a favor dos professores, da escola e da qualidade de ensino, sei que vai ceder em vários pontos, não será tanto por si ou pelo seu governo, mas sim por força da maioria relativa que o povo português vos deu e deixou o PS refém dos outros partidos. É verdade que o senhor Sócrates tudo faz para esconder esta realidade, isso é mera retórica, mera propaganda, a realidade é bem diferente, e se os outros partidos quiserem em matéria de ensino e noutras o governo sairá derrotado, por isso há coisas que vão acabar, V. Exa. sabe-o, o segredo está em adiar, ganhar tempo…
8º - Como é escritora, se por acaso tivesse de sintetizar a entrevista num título de um livro seria num do nosso ex-colega, João de Melo: O meu reino não é deste mundo. E, se calhar o seu reino não é mesmo o dos professores, mas o meu é, por isso, não acredito em simpáticas palavras. Continuo a duvidar, à espera de acções, sem alinhar em optimismos exagerados. Pensando na fábula que inicia este post: não quero perder as penas.

5 comentários:

  1. Caro Luís,
    mais uma vez os meus parabéns pela excelente análise que fizeste sobre a entrevista à sra ministra e o meu obrigado por a partilhares connosco.
    Penso que sabes que eu sou igualmente optimista... porque acredito e quer continuar a acreditar que "para melhor está bem, para pior já basta assim". Mas, de facto, o que vimos na entrevista foi um embrulho, bonito e simpático sem dúvida, mas apenas um embrulho. Nós queremos é conhecer o conteúdo e esse sim, é o que mais interessa (ou o que de facto apenas interessa). Infelizmente, o passado recente obriga-nos a sermos mais uma vez como S. Tomé: "Ver para crer" para não "perder(mos) as penas".
    Um grande abraço.
    Já agora, utilizando

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  2. Sérgio !
    Concordo com o colega João : uma boa análise. E neste caso para acreditar é preciso ver mudança.Pa já parece-me que a senhora manda pouco, quem decide é Sócrates e a I.Alçada é uma espécie de Ana Jorge da Educação. Ainda não entendi a festa dos sindicatos só porque há abertura ao diálogo. A seguir à primeira grande manifestação também foi assim. Estes senhores ou são frouxos ou não têm visão.
    Grande abraço,
    Filipe

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  3. Caro colega !

    Tem toda a razão.Todo o cuidado será pouco atendendo "ao chefe", como diz. A senhora é bem diferente da anterior,mas isso não chega. Vamos estar atentos não nos saia um Cavalo de Tróia, como o da imagem que colocou no post. Eu estou desconfiado e, tal como os colegas anteriores : ver para crer. Agradeço também a boa análise e a partilha .

    Bom trabalho !
    Abraço solidário.

    Professor REVOLTADO

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  4. Luís Sérgio,

    Gostei bastante desta análise.De facto será bom que tenhamos cuidado. Queremos prática e não intenções.

    bj,

    Anabela L.

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  5. Do Óscar Martins

    Via E-mail :

    Caro Luís Sérgio,


    Gostei do último post.

    Gostei especialmente do que refere no ponto 8. Mas espero, sinceramente, que não seja (venha a ser) verdade.
    Mas, a frase inicial, “A raposa disse um dia à galinha: “Temos que nos encontrar para conversar e fazer as pazes”. Mais tarde na floresta só se viam penas de galinha. La Fontaine””, poderá ser premonitória. Espero que não.
    Cumprimentos,
    Óscar

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