terça-feira, 3 de abril de 2012

Serviçal/Lacaio

Foto : L.Sérgio

Serviçais, lacaios, podem encontrá-los nas salas de professores, um dos seus “habitats” preferidos, mas estão em toda a parte: da mais baixa à mais alta hierarquia e o seu único desígnio é o servilismo humilhante. Vivem acossados, o seu umbigo e o seu chefe determinam a sua existência. A forma fácil como se reproduzem faz desta coisa à beira-mar plantada uma espécie de gaiola de escravos amestrados. Por isso, hoje, aqui e agora, resolvi prestar-lhes a minha sentida e sincera homenagem.
 



Serviçal/Lacaio
 
Deixa estar, não é contigo,
que interessa?
Tenta passar despercebido
talvez seja melhor assim.
Não, não tenhas pressa
governas-te bem assim.
Como, assim?!
Sem coluna vertebral,
vendido
subtraído,
não passas de animal,
um réptil imundo.
Se não é contigo,
Não é.
Estás bem, esquece
deixa estar,
olha a tua vidinha,
pequenina
mesquinha
triste,
às vezes grande
no medo
que te consome
te mata.
Miserável,
és o medo,
sim o medo
de viver
de ser
de tomar posição
ter opinião.
Não existes
E, por um acaso,
Só por acaso,
Se existes,
Ah! És a vidinha.
Ficas bem assim.
Verme
rasteja
bajula
esconde-te,
e, se puderes
se conseguires
olhar-te
ver-te ao espelho,
repara
repara bem
no medo infernal
no medo sem igual.
Olha bem
Sim,
Observa-te
Com rigor
Sim,
Bem assim
És tu,
Rastejante
Untuoso
Delirante.
Não. Não é contigo.
Não, não!
Vida
Alegria
Sentido.
Observa-te
olha-te
bem,
submetido
ajoelhado
empedernido
subjugado,
um menos de nada
um claro e insignificante
nítido nulo
assim,
és tu, simplesmente,
anulado,
indecentemente
prostrado,
miseravelmente
lacaio,
incrivelmente
serviçal,
estupidamente
visceralmente
canalha,
Sem igual.
Luís Sérgio /2012

8 comentários:

  1. Caro amigo Luís Sérgio:

    Pela primeira vez não tenho palavras para comentar a tua genialidade poética...

    Resta-me dizer-te que estou solidário contigo e que com a tua devida autorização tenho "ganas" de publicar este poema no meu blog!

    Grande Abração!

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    1. Caro Armando !
      Muito obrigado pelas tuas simpáticas palavras, genialidade é "forçar muito a barra",brinquei simplesmente com as palavras e deu-me gozo a escrita e ridularizar a "canalha" que vemos desabrochar à nossa volta.
      Grande abraço,
      Luís Sérgio

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  2. Sérgio !
    Mais uma extraordinária síntese, o Armando tem razão, isto não pode ficar por aqui, precisa de maior divulgação. Esta absorção dA MISÉRIA PORTUGUESA E DAS NOSSA ESCOLAS, só mesmo tu. Obrigado pela partilha ,vou divulgar o mais possível, afinal é este o povo que temos, embora tenha esperança de que acorde, senão tudo será muito triste.
    Grande abraço,
    Filipe

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  3. Filipe !
    Obrigado !tal como disse ao Armando , simplesmente brinquei com as palavras, também é verdade que gostei de escrever sobre a canalha que nos prejudica a todos.
    Grande abraço,
    Luís Sérgio

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  4. Querido amigo !


    Lindo. A tua atenção e sensibilidade descobre estas coisas que, muito bem e subtimente chamas pelo nome.

    Bjs,

    Professora

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  5. Se Camões fosse vivo escreveria assim...

    I

    As sarnas de barões todos inchados
    Eleitos pela plebe lusitana
    Que agora se encontram instalados
    Fazendo o que lhes dá na real gana
    Nos seus poleiros bem engalanados,
    Mais do que permite a decência humana,
    Olvidam-se do quanto proclamaram
    Em campanhas com que nos enganaram!

    II

    E também as jogadas habilidosas
    Daqueles tais que foram dilatando
    Contas bancárias ignominiosas,
    Do Minho ao Algarve tudo devastando,
    Guardam para si as coisas valiosas
    Desprezam quem de fome vai chorando!
    Gritando levarei, se tiver arte,
    Esta falta de vergonha a toda a parte!

    III

    Falem da crise grega todo o ano!
    E das aflições que à Europa deram;
    Calem-se aqueles que por engano
    Votaram no refugo que elegeram!
    Que a mim mete-me nojo o peito ufano
    De crápulas que só enriqueceram
    Com a prática de trafulhice tanta
    Que andarem à solta só me espanta.

    IV

    E vós, ninfas do Coura onde eu nado
    Por quem sempre senti carinho ardente
    Não me deixeis agora abandonado
    E concedei engenho à minha mente,
    De modo a que possa, convosco ao lado,
    Desmascarar de forma eloquente
    Aqueles que já têm no seu gene
    A besta horrível do poder perene!


    NOTA: foi-me enviado por e-mail de autor desconhecido.

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    1. Armando ,
      Muito bom, obrigado pela partilha.

      Boa Páscoa !
      Grande abraço,
      Luís Sérgio

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