quarta-feira, 7 de março de 2012

Memória

A vaquinha Milu. Durante o consulado de M.L.Rodrigues
acompanhou-me por todo o lado, reuniões, manifestações,
na escola. Hoje descansa na minha secretária de trabalho
entre a imagem de um buda e um pequena pedra de estimação.

Oito de Março de 2008.
Um dia internacional da mulher diferente.
Professores fizeram história.
 

Pois é. Como o tempo passa, foi há quatro anos, a maior manifestação de professores de que há memória em Portugal. No auge da resistência, quase em desespero, vítimas de um ataque sem precedentes, que lhes roubava a dignidade, as condições de trabalho e SER, mais de 120.000 docentes saíram à rua e gritaram bem alto a sua indignação. Mostraram ao país e ao mundo que as políticas socráticas visavam destruir o ensino público, acabar com a carreira docente e preparar o ataque a toda a função pública e resto da população trabalhadora. A manifestação provou que os professores já não aguentavam mais, o sofrimento e a prepotência, exasperavam, colocavam no limite e uniam uma classe difícil de unir e mobilizar. Cumprindo as ordens do seu chefe, a execrável e de má memória, Milu, teve mérito, por uma vez, unir e revoltar toda uma classe. O poder tremeu e só não foi abaixo por inépcia da oposição e das muitas traições sindicais, ainda hoje sem explicação. Numa posição recuada de defesa e “reclamação de diálogo”, cantou-se vitória porque o governo aceitava negociar. Quando a manifestação e a opinião pública exigiam, no mínimo, a queda da ministra, uns quantos estrategas de pacotilha, nos quais se integram algumas direcções sindicais, adormeceram à mesa das negociações, sem qualquer ganho significativo para os professores e para as escolas.
O próprio Carvalho da Silva, na época, dirigente da CGTP, afirmou, nesse dia, discursando, no fim da manifestação, qualquer coisa como: “ A ministra tem de sair, nem que tenha que ser com um guindaste”. No dia seguinte, a ministra continuou e passados alguns dias festejou-se um memorando de entendimento, no qual tinham sido usados, muito mal, como moeda de troca: a luta e a resistência dos professores. Pequenas migalhas e pequenos ajustamentos legais calaram alguns dirigentes e adormeceram uma classe disposta a lutar e a resistir. De significativo pouco se conseguiu, o essencial da dominação e destruição socrática manteve-se: Um sistema de gestão fascizante, cujo dirigente máximo respondia e responde fundamentalmente à Tutela, a perda da autonomia e o fim da participação dos professores na vida e gestão da escola consumou-se; os horários de escravidão e dedicação a burocracias que em nada contribuem para a melhoria do ensino mantiveram-se; o essencial de um modelo de avaliação absurdo, injusto e discricionário continuou e continua. Pequenos núcleos continuaram a resistir, mas sem uma direcção e uma estratégia organizativa capaz de continuar uma luta ferida, agora, desorientada, e algo frustrada. É verdade que, quando entregues a si próprios, um número significativo de professores, consciente ou inconscientemente, foi dando uns tiros nos pés, entregando-se e vendendo-se sem qualquer pejo, a troco de uma possível ultrapassagem pela direita dos restantes colegas. Para alguns, naqueles tempos, como agora, vale tudo, menos tirar olhos, esquecendo-se que no seu afã egoísta e umbiguista, destroem tanto a sua vida como a dos outros, coitados, coitadas, estas últimas estão em maioria, quando acordarem da sua malvadez, talvez seja tarde para se olharem direito. De qualquer modo, estas atitudes só prosperaram porque se mantiveram as direcções escolares, nas escolas, como “cadeias de transmissão” de uma política socrática de dominação e medo. E como o medo impede alguns de viver, muitos outros foram vítimas dos danos colaterais e das traições.
Hoje, nas escolas e no país, o mar está mais encrespado que nunca, hoje mais do que em tempo algum, os professores têm de resistir e lutar. Hoje, ficar a assistir, fazendo de conta que nada é connosco é erro fatal. Como se escreve, no vídeo que hoje vos deixo:
“ É tradição os Homens lutarem! É tradição o Homem crescer.”

Será que se mantém a tradição?



7 comentários:

  1. Caro amigo Luís Sérgio:

    É claro que se mantém a tradição do Homem lutar para crescer! Mas também se mantém a tradição dos indiferentes tal como a tradição dos que pretendem subjugar...

    E também se mantém a tradição da desinformação: repara que ainda esta semana foi noticiado que Portugal é o país da Europa em que mais idosos morrem por causa do frio!!!! Mantira!!! Os idosos que morreram foi por falta de lenha para a lareira, falta de gás para o aquecedor, de falta de dinheiro para poderem pagar à EDP! Morreram foi por falta de aquecimento! E não tinham esse aquecimento por causa das reformas de miséria...

    Deveremos estar atentos a todas estas tradições!

    Grande abraço!

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    1. Caro Armando !
      Tens toda a razão, temos que ficar atentos a todas estas "tradições ".
      grande abraço,
      Luís Sérgio

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  2. Sérgio !
    Grande amigo, realmente estas coisas não te escapam. Tens razão 4 anos e pouco se avançou. Parece coisa do outro mundo, mas atrás de um diabo, veio outro diabo, mais negro. Triste escola, triste profissão. Cá por mim , às vezes, tirando algumas boas excepções, acho que já nem há professores, há por ai, uns animadores culturais a " tomar conta da canalha". E depois morre-se de frio, é o frio da submissão que nos está a matar.
    Grande abraço,
    Filipe

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    1. Filipe !
      É como diz o Armando, faz-nos falta um cajado. Parece mentira mas dava muito jeito.
      Grande abraço,
      Luis Sérgio.
      PS,
      Enviei-te um e -mail, vê o comentário do Armando.

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  3. Caro Filipe: se fosse hoje tinha ido para pastor. Guardava a cabrada na mesma mas pelo menos possuía um cajado...

    Um abraço!

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  4. Caro colega , Armando !
    Quantas vezes pensei nisso. Quanto sossego, se calhar as ovelhas até nos ouviam com mais atenção. E um cajado, bem um cajado, isso é que era, mas dos duros. Em tempos , disse, ao Sérgio que temos de ir para as manifestações e para a escola de cajado. De certeza que isto só muda quando tivermos t...... para fazer isso.

    Abraço,
    Filipe

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