Maus tratos/ Violência (
Bullying)na Escola – Uma questão de organização.
Texto 2.
A água e o vaso
“ A água toma sempre a forma do vaso.”
Provérbio
japonês
N a verdade, segundo a abundante literatura da especialidade,
os factores organizacionais da escola e a cultura da escola, das escolas,
poderão propiciar o desenvolvimento de comportamentos de Bullying , De entre os factores ambientais que facilitam/influenciam o desenvolvimento deste tipo de violência
destacam-se:
“ A dimensão das escolas – As escolas maiores referem a existência de
uma maior percentagem de violência.
As
escolas que têm regras claras de conduta
referem menos violência
Número de alunos por turma – Há uma
relação directa entre um menor número de alunos por turma e uma menor violência
Práticas disciplinares justas e céleres
– As escolas em que os alunos classificam as práticas disciplinares de justas
referem menos violência.
Participação nos processos de tomada de
decisão – As escolas em que os responsáveis administrativos e pedagógicos,
especialmente, os responsáveis por manter a disciplina oferecem aos
professores, funcionários e alunos oportunidades de participação nos processos
de decisão apresentam menos violência.
A coesão entre o corpo docente – A
coesão entre o corpo de professores e os responsáveis pela manutenção da
disciplina na escola está relacionada com uma menor violência.
Controlo discente – As escolas onde os
alunos mencionam que sentem que controlam as suas vidas referem a existência de
menos violência.
Respeito pelos dirigentes escolares – As escolas em que os responsáveis por manter a disciplina não são respeitados pelos alunos referem mais violência.
Educação para os valores - As escolas
em que se trabalham os valores apresentam menos violência.
Educação para a não – violência - As
escolas em que se praticam formas alternativas e assertivas de gerir conflitos
referem menos violência.”
Acreditando nos
especialistas e nos estudos, em Portugal, está a fazer-se tudo ao
contrário.
Escolas de dimensão Hipermercado, os mega
agrupamentos que, nalguns casos, atingem mais de 3500 alunos, diminuindo
drasticamente o número de professores e funcionários gerando mais confusão,
menos supervisão, mais violência e de certeza mais Bullying e menos tempo e pessoas para o
combater. Acentua-se a desumanização de que falava o nosso Nobel.
Aumento
exponencial do número de
alunos por turma – Turmas com trinta e mais alunos, dificultando o
controlo da turma por parte dos professor, mais indiferenciação.
Raras são as escolas em que existe um plano claro e objetivo de combate
à violência escolar, com regras claras de conduta, capazes de prevenir o
Bullying. Muitas vezes navega-se à vista reagindo e não agindo.
O princípio de uma justiça justa e rápida é posto em causa
por procedimentos desajustados e burocráticos que transformaram as escolas em tribunais
e os professores em delegados do
ministério público. A teia burocrática e legalista (No pior sentido do
termo) fomenta a inércia e a impunidade vai fazendo lei. Muitos alunos saem da
escola sem conhecer os princípios da causa/ efeito.
O
modelo de Gestão Escolar que, lembremos vem dos tempos de Sócrates e
Maria de Lurdes Rodrigues (convém que não tenhamos memória curta) afastou a
maior parte dos profissionais de educação da tomada de decisões. Nas escolas há
hoje uma espécie de RDM das ordens e da obediência cega, tendo como
consequências, entre outras, menor participação, menos envolvimento, menos
discussão, menor respeito pelo outro, outros. Tudo anda à volta do medo e da consequência. Perdeu-se a
autenticidade, sobressai e predomina o desejo de agradar e de obedecer a quem
decide da vida de muitos.
Os professores, por força de um modelo de gestão
que os afastou da tomada de decisões e da participação democrática na vida das
escolas, muitas vezes, não reconhecem
autoridade a quem trata e decide das questões da violência em contexto escolar. A não escolha, a
não participação afectam a credibilidade e a capacidade de acção.
Acentua-se diariamente a
instabilidade pessoal e profissional nos professores, a negatividade é o alimento quotidiano dos docentes e todos
percebemos e sabemos que quem não está bem, não consegue, não pode, prestar a
melhor atenção aos problemas dos outros, “bastam-lhes os seus”, como o diz o
povo.Uma escola que hipervaloriza os exames e os “rankings” transformando o professor em treinador de exames desvaloriza-o na sua função humana e educativa e por coacções várias vai-lhe retirando a capacidade e o tempo que possa dedicar aos outros, neste caso, a si próprio, à sua família, aos seus amigos e às pessoas dos seus alunos.
A impunidade é tal que, muitas vezes, os alunos já não acreditam nos dirigentes escolares quando estes dizem que os vão sancionar ou punir, os mais velhos, ou os mais inteligentes sabem que voltarão sempre ao local do crime como se nada tivesse acontecido, sobrando para a escola e para os professores todo um trabalho de “compensação” que os levará” pensar duas vezes”, antes de se decidirem por nova punição.
Educação para os valores e para a não- violência são coisas formalmente indesejáveis. Do topo à base, nas escolas portuguesas, inclusive nas faculdades, o que se fomenta, o que se programa nem que seja de forma oculta é a obediência cega, o respeito pelos chefes, pelos mais fortes, maus e sem carácter, se não é assim, porque perduram as praxes e as sevícias académicas. O que se faz na maior parte delas e de conhecimento público, não é Bullying extremo?!
Infelizmente,
os professores também são vítimas de
maus tratos, não só os que vêm directamente do ministérios, como ainda
os provocados por alunos e pais “marginais”, agressivos e intimidatórios; dos
colegas que gozam, assediam e intimidam reiteradamente os seus pares e, sobretudo,
o abuso de poder hierárquico.
Pois, se como diz o provérbio, “ A
água toma sempre a forma do vaso”, cuidado, muito cuidado, com a água que cai
nos vasos das nossas escolas. A trovoada aproxima-se e, agora, que fazer?CONTINUA ( TEXTO A PUBLICAR).
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