domingo, 16 de novembro de 2014

Maus tratos/ Violência ( Bullying)na Escola – Uma questão de organização. Texto 1.




 


Começo hoje a publicação de 3 textos que serviram de base à comunicação que apresentei no “CONGRESSO do BULLYING”, realizado no dia 4 de Outubro de 2014, no Centro Lúdico de Massamá.

Maus tratos/ Violência ( Bullying)na Escola – Uma questão de organização.

A violência do que não vejo. O que quero ver e alguns escondem.

Se o homem não for capaz de organizar a economia mundial de forma a satisfazer as necessidades de uma humanidade que está a morrer de fome e de tudo, que humanidade é esta? Nós, que enchemos a boca com a palavra humanidade, acho que ainda não chegamos a isso, não somos seres humanos. (…) Vivemos ao lado de tudo o que é negativo como se não tivesse qualquer importância, a banalização do horror, a banalização da violência, da morte, sobretudo se for a morte dos outros, claro. Tanto nos faz que esteja a morrer gente em Sarajevo, e também não devemos falar desta cidade, porque o mundo é um imenso Sarajevo. E enquanto a consciência das pessoas não despertar isto continuará igual. Porque muito do que se faz, faz-se para nos manter a todos na abulia, na carência de vontade, para diminuir a nossa capacidade de intervenção cívica.”

José Saramago. A semente e os frutos.
Canarias 7, las Palmas, 20 de Fevereiro de 1994 (Entrevista de Esperanza Pamplona.


Deixando para os técnicos abordagens mais específicas da problemática a minha intervenção centrar-se-á, sobretudo, nos aspectos organizativos da escola e sobre aquilo que se faz ou não nas escolas para combater o problema. Desde já, quero dizer-vos que não gosto da palavra “Bullying”, vejam bem, nem da palavra gosto, irrita-me solenemente, a submissão, a ignorância como muitos estrangeirismos entram na língua portuguesa. Nós já tínhamos os maus tratos, a violência, sobre o outro, outros, muito antes de os Ingleses ou alemães, nos virem dar lições de bullying. Se ainda não se deram conta, ficam já a saber que até na língua há maus tratos e de que tamanho senhores, são” tratos de polé”. Ainda há bem pouco tempo uma economia mais forte impôs à fraca economia de um país de políticos medíocres um acordo ortográfico absolutamente desastroso. E a sabedoria popular portuguesa, a mui rica sabedoria popular portuguesa, há muito que respondia e apontava a estratégia para responder às agressões quer físicas quer psicológicas, quem é que nunca ouviu a expressão:


“Não faças aos outros aquilo que não queres que te façam a ti.”

Na verdade, bastava-nos recorrer à sabedoria do povo português, chegava-nos

perceber e ser capaz de transmitir às gerações  mais novas, toda a riqueza e todos os valores de justiça e de respeito pelo outro e de humanismo que encerra a expressão citada. Mas, por onde andam os valores, será que estão na escola? E fora dela?
Voltaremos ao assunto, por agora, interessa antes de mais definir o que entendo por “Maus tratos”, vá lá por hoje até aceito que lhe chamem “Bullying” senão corremos o risco de não nos entendermos e não é isso que pretendo. Numa definição que não é minha, mas da literatura especializada sobre o tema, considera-se que existe:

“ Bullying  quando uma pessoa mais forte e mais poderosa magoa ou assusta uma pessoa mais pequena ou mais fraca, deliberadamente (de propósito)e de forma repetida (muitas vezes).”

Como se pode ver pela definição, esta forma de violência não é património dos ingleses dos americanos ou dos alemães, se bem que sejam estes últimos quem nos trata pior, isso “são contas de outro rosário”, ou se calhar nem tanto. Na verdade, o problema é muito antigo, até há quem diga que, “ Tudo começou com o ciumento /invejoso Caim quando assassinou o seu irmão Abel …ou desde que o primeiro homem das cavernas resolveu impor as suas decisões à mocada dando com a clava na cabeça dos outros.” (Reparem que ainda não falei das escolas, mas já me referi às cavernas, aos homens das cavernas, portanto não ando longe, estamos perto, sem dúvida. Na verdade, e cada vez mais as nossas crianças passam demasiado tempo nas escolas, a carga horária a que estão sujeitas é uma violência, quase podemos afirmar que as escolas estão organizadas para a violência, para os maus tratos, o resto vem por “arrastão.”

Vamos então às escolas:
Imitando o que se passa à sua volta e sendo os muros da escola incapazes de suster os males da sociedade, a escola é o lugar excelso e predilecto onde acontecem muitos dos maus tratos e da violência sobre o outro, outros. Nem sempre acontece de uma forma clara, a maior parte das vezes é muito subtil, escondido da vista do adulto, nem sempre os sinais são evidentes, e mesmo quando os sinais são claros e perceptíveis há dificuldade em actuar.

Nas nossas escolas, sobretudo nos recreios e espaços escolares impera cada vez mais a lei do mais forte, do rufia, do “gangster” que tudo e todos domina. Aparentemente, estamos longe das cavernas… mas, a verdade é que a confusão, a resolução de conflitos com violência e pela violência acentuam-se. Nos pátios de algumas escolas e nalgumas salas de aulas a forma mais comum de comunicação, de saudação, são a batida e a agressão física ou psicológica. Na escola ainda não saímos da caverna. A luz está longe e as sombras do medo e da confusão ainda imperam.
Não pensem que estou a exagerar, a caricatura é aliás pequena para males tão grandes, pois se acham que exagero, vejam, pensem no que se transformaram as escolas nos últimos tempos. Aliás quero pedir-vos desculpa pelo erro, para além das que encerram, no discurso e terminologia oficial já não existem, agora temos “unidades organizacionais”.  As escolas é certo, morreram.

A organização é tudo, mas, sobretudo, a desorganização para os maus tratos, para a violência, para o “Bullying.”
Continua (texto a publicar)

 
 
 

 
 

1 comentário:

  1. Gostei Luís Sérgio. Obrigada por nos lembrares que a Escola tem um CORAÇÃO.
    Bem-hajas!
    Luisa

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