domingo, 29 de julho de 2012

O mata-professores. Parte 4 de 4.


O mata-professores e a questão ideológica Parte 4 de 4

  Como um mal nunca vem só, é aqui que entra a questão ideológica, o governo de amanuenses do qual São Nuno faz parte, jurou a “pés juntos” fidelidade ao FMI e ao memorando da troica, que mais não é do que uma bíblia para destruir todos e cada um dos direitos dos trabalhadores para pagar os juros da dívida, e, digo juros, porque a dívida, por este andar, ninguém pagará. Querem convencer-nos que o país só se tornará competitivo, se obedecer cegamente aos “mercados”. Para já, não importa discutir o que é isso dos mercados? Essas competividade pensam eles e querem fazer-nos acreditar que só se consegue se tivermos salários e condições de trabalho ao nível da China e do pior dos mundos. Daí termos assistido a que, na mesma altura, o ministério da saúde, tentasse subcontratar cerca de 70 enfermeiros para a ARS-LVT - “receberam propostas para receberem 3,96 euros para 35 horas semanais”, assim noticiava o jornal público. Funcionários da área da saúde, altamente qualificados, pagos a 3,96 euros hora. Pensaríamos impossível, mas perante a denúncia e a luta o ministério recuou, e o ministro até disse que nada sabia. Faz tudo parte da mesma estratégia: Para destruir o serviço nacional de saúde é preciso destruir e domar os profissionais de saúde; para destruir a escola pública é preciso destruir e domar os professores. O grande sonho dos mata-professores é correr com o máximo de docentes das escolas, lançar milhares no desemprego e, mais tarde, poder subcontratá-los, se calhar a uma empresa do Relvas, não a 3,6 euros hora, mas 2euros hora, ou menos…
Ora, como vemos, com estas e outras manobras, nomeadamente os exames, de que falarei um dia destes, estão criadas as condições para a bagunça, insucesso e degradação da escola pública. Criando as piores condições nas escolas, onde o insucesso e a indisciplina aumentarão, lançam-se incentivos para quem pode “correr” com os filhos para o privado. Sobre este assunto, um grupo de cidadãos reunidos no dia 18 de Julho, na Escola Secundária de Raul Proença, nas Caldas da Rainha, criticava:
“…a forma como o Ministério da Educação, através da Direcção Regional de Educação de Lisboa e Vale do Tejo, tem privilegiado a atribuição de turmas aos estabelecimentos de ensino particular e cooperativo, pagando cerca de 85 000 euros por turma, em prejuízo das escolas públicas do concelho, originando a situação impensável de haver dezenas de professores sem componente lectiva, e contribuindo, assim, para uma despesa desnecessária para o Orçamento de Estado, numa altura em que os cortes na Educação colocam Portugal em último lugar na listagem de países da OCDE que menos investem nesta área.”

Hoje só um ingénuo, ou um anjinho, muito anjinho, não percebe que o problema, não é conjuntural, mas sobretudo, uma questão de uma ideologia de poucos que quer dominar e lançar para a miséria muitos. Hoje, se nada fizermos, o inferno está aí.
 Aos profissionais da educação e a todos os cidadãos interessados em defender a profissão PROFESSOR e a ESCOLA PÚBLICA só lhes resta lutar, resistir, por todos os meios e de todas as formas ao maior ataque de sempre. A partir de agora, todas as formas de luta serão legítimas, e quando escrevo todas, são mesmo todas. Ilegítimo, ilegal, monstruoso e bárbaro é o que os mata-professores e mata-cidadãos pretendem levar a cabo.
Segundo James Joyce, “Tudo é caro de mais quando não é necessário”. Este governo não é necessário e está a ficar-nos muito caro, por isso, resta-nos fazer o que ainda não foi feito: Contribuir com toda a energia para o derrube deste ministro e deste governo. Será que ides hesitar?

7 comentários:

  1. Excelente análise. Esvaziaste a revolta, mas encheste de significado o intervalo entre as atitudes, os ditos e os contraditos deste ministério de cariz alquimista que nos coloca como ingredientes de uma receita avulsa, a ver se pega. A ver quantos ficam presos na rede, para a rede ficar mais leve. E a opinião pública acredita que há excedentários no ensino. Aliás, a opinião pública acredita que todos os sacrifícios justificam o fim, julgando que o fim é a salvação do país. Mas não é, como tu bastante claramente indicas. Por isso, é necessário ir mais longe do que já fomos. Agora ou nunca mais.

    Um abraço, Luís!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Cara Ana,
      Obrigado pelo teu comentário. Na verdade a opinião pública continua a acreditar em muita coisa e muitas pessoas que não devia. E, sem dúvida temos que ir mais longe do já fomos. Como muito bem diz, o colega Filipe, estamos em guerra, eu acrecento em guerra, mas para já só com baixas entre o povo que aceita ser vítima. A indiferença nas escolas e no resto do país, mata, mata subtilmente, por isso, muitos não acordam.
      Abraço e bom descanso.
      Luís sérgio

      Eliminar
  2. Bom amigo,
    Texto muito interessante, análise lúcida e verdadeira, muito verdadeira. Quando será que acordamos para a dura realidade. Muitas e muitos ou são burros mesmo ou preferem ignorar, nem sei o que é pior. Tens razão e tal como diz a comentadora anterior . " É necessário ir mais longe." Veremos se temos gente capaz.
    Um beijinho e ,mais uma vez, obrigada!
    Professora

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigada, pelas simpáticas palavras.
      " Quando será que acordamos para a dura realidade ", esta é a questão .
      beijinhos,

      Eliminar
  3. Sérgio !
    Fim de uma boa análise, vale a pena ler o que escreves, para lembrar aos distraídos o que se passa na nossa escola e em Portugal. Estamos perante uma guerra, uma guerra declarada aos professores e ao povo português, mas a maioria dos professores e dos portugueses, preocupa-se mais com a S. Fátima e o futebol. Ainda bem que há quem resista. Quando andei pelas últimas concentrações da FENPROF, lembrei-me dos que atacam sempre os sindicatos, não os vi na luta, por onde andaram, qual é a sua estratégia ? Lixem-se, quando forem capaz de mostrar o que valem cá os espero.
    Grande abraço,
    Filipe
    PS
    desculpa este desabafo de sindicalista não oficial.

    ResponderEliminar
  4. Grande Filipe,
    " Estamos em guerra", tens razão, pena que as principais vítimas ainda não tenham dado conta.
    É verdade que muitos colegas se refugiam nas criticas aos sindicatos para não fazerem nada. Individualistas e oportunistas estão à espera, sempre e sempre que alguém faça por eles, só sabem lutar no sofá e na praia. A inconsciência política e humana domina. Deixa-as e deixa-os, com esses ainda hoje seríamos escravos.
    Obrigado pelas tuas palavras,
    Grande abraço de solidariedade,
    Luís Sérgio

    ResponderEliminar
  5. Luís Sérgio, se não te conhecesse diria que esta análise além de lúcida e concreta é realista. Mas conhecendo-te, digo-te que a tua análise só mostra que seja qual for a ideologia, o que importa é reproduzir o mercantilismo.
    Como diria o poeta, o que me interessa a monarquia ou a república se quem tem o poder é sempre um gordo?
    Uma análise económica diz-nos que se não temos para comprar, alguém vai ter para não vender...
    Uma análise pedagógica diz-nos que se não temos para ensinar e educar, alguém vai ficar sem aprender e sem ter educação. Mas aqui o problema é que TEMOS mas sem condições...
    Exemplo temos nos Jogos Olímpicos em que atletas falham medalhas não por causa deles, mas por causa da (des)organização - viste na comitiva algum psicólogo do desporto para os motivar, para os acompanhar nos bons e nos maus momentos? Alguém que os acompanhe no relacionamento com a comunicação social?
    Londres será igual a Barcelona? Ou seja, zero medalhas???

    Grande abraço!

    ResponderEliminar